O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, defendeu esta terça-feira que, para Portugal, a China não é substituta dos Estados Unidos, salientando que Pequim é um parceiro económico e Washington um aliado.

Numa audição na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas do Parlamento, Augusto Santos Silva respondia ao deputado social-democrata Nuno Miguel Carvalho, que o questionou sobre se o recente acordo comercial entre a União Europeia (UE) e a China poderia afetar as relações entre os Estados Unidos e a Europa comunitária, nomeadamente com Portugal.

“Portugal tem parceiros comerciais em todo o mundo e a China é um deles. A China não é substituta dos Estados Unidos. Os nossos aliados estão entre os Estados-membros da UE, no Reino Unido, nos Estados Unidos, no Canadá, na Aliança Atlântica [Organização do Tratado do Atlântico Norte — NATO] e nos países lusófonos”, salientou o chefe da diplomacia portuguesa.

A Presidência alemã da UE, lembrou Santos Silva, assinou o acordo comercial com a China e Portugal, que a passou a Portugal a 1 de janeiro deste ano, “vai continuar, com prudência”, a tudo fazer para que constitua um sucesso.

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A audição foi feita a pedido do Grupo Parlamentar do Partido Socialista (PS), na sequência da 44.ª reunião da Comissão Bilateral Permanente entre Portugal e os Estados Unidos, realizada por videoconferência a 17 de dezembro passado, tendo como pano de fundo as alterações na política externa norte-americana com o novo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os reflexos em Portugal.

Santos Silva lembrou que os Estados Unidos constituem o primeiro parceiro comercial à exceção da UE e que Portugal vê a nova Administração norte-americana como uma “oportunidade para refrescar” as relações bilaterais.

“Com o novo mandato, abre-se uma nova avenida de cooperação nas relações com os Estados Unidos, que tem sido crescente [nos últimos anos]. Com Biden há, sim, um maior alinhamento na política externa, no multilateralismo e na agenda mundial”, argumentou o ministro dos Negócios Estrangeiros português.

Segundo Santos Silva, Biden reafirmou o compromisso dos Estados Unidos com a NATO e apresentou três prioridades para a política externa norte-americana, como a realização de uma cimeira climática, em abril deste ano, outra com chefes de estado e de governo de países em que vigora a democracia e ainda uma viragem no foco da estratégia para a região do indo-pacífico.

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Nesse sentido, o chefe da diplomacia indicou que a convergência com os Estados Unidos dá maior utilidade à realização da cimeira UE/Índia, prioridade “absolutamente essencial” da Presidência portuguesa dos 27.

Estando Portugal a assumir a Presidência da UE, a ideia, acrescentou Santos Silva, é que possa servir de pivot entre os três mercados e regiões, “oportunidade que não pode ser desperdiçada”.

O reforço das relações europeias com a Índia ganha ainda maior relevância a partir do momento em que foi assinado recentemente um acordo económico regional abrangente entre os países da Oceânia e do sudeste asiático, em que a Índia está presente.

Santos Silva também lembrou que as relações comerciais entre Lisboa e Washington têm melhorado nos últimos anos, com o crescente investimento norte-americano em Portugal, sobretudo nas áreas da banca, novas tecnologias e turismo, bem como ainda no setor da energia, com o porto de Sines a servir de “porta de entrada” ao gás dos Estados Unidos para a Europa, “evitando-se maior dependência do da Rússia”.