A variante do coronavírus que causa a Covid-19 encontrada pela primeira vez em Inglaterra vai adquirir mutações que poderão reduzir a eficácia das vacinas atuais, disse a líder do programa de vigilância genética do Reino Unido.

“É inevitável que o vírus continue a sofrer mutações porque é a natureza, é a evolução. O que é preocupante é que a (B)117, a variante que temos em circulação há semanas ou meses, está a começar a adquirir novas mutações, o que pode afetar a forma como abordamos o vírus em termos de imunidade e a eficácia das vacinas”, disse a diretora  do Consórcio Covid-19 Genomics UK (COG-UK), Sharon Peacock, à BBC.

Esta rede de laboratórios públicos e independentes faz a sequenciação do genoma do vírus em milhares de testes por dia para identificar mutações e potenciais novas variantes.

A variante B117 foi primeiro identificada na região de Kent, no sul de Inglaterra, em setembro do ano passado e é considerada responsável pela vaga de milhares de casos de Covid-19 no final de 2020 e início de 2021 que levou o Governo britânico a declarar em 4 de janeiro o confinamento nacional que ainda está em vigor. Esta variante já foi encontrada em mais de 50 países, incluindo em Portugal.

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Nas últimas semanas, as autoridades de saúde britânicas identificaram dezenas de casos em Bristol, no sul de Inglaterra, e em Liverpool, no Norte, com mutações diferentes que são motivo de preocupação e estão a ser investigadas. A análise de testes a pessoas infetadas em Bristol encontrou uma mutação tipo E484K, que afeta a forma como o vírus adere às células das pessoas, também encontrada na variante B1351, detetada na África do Sul, e variante B1128, detetada no Brasil.

Esta mutação permite ao coronavírus escapar aos anticorpos desenvolvidos, seja pelas vacinas ou por infeção anterior.

O grupo de cientistas da Universidade de Oxford que desenvolveu uma vacina contra a Covid-19 com a farmacêutica AstraZeneca afirmou na semana passada que a vacina é eficaz contra a variante B117, do Reino Unido, mas é menos eficaz contra a variante B1351, da África do Sul.

Peacock, professora de Microbiologia e Saúde Pública na Universidade de Cambridge disse que “é preocupante que a (B)117, que é mais transmissível e se espalhou pelo país, esteja agora a sofrer mutações e a desenvolver esta nova mutação que pode ameaçar a vacinação”.

A cientista admite que, por ser mais contagiosa, a variante B117 “espalhou-se pelo país e provavelmente vai espalhar-se pelo mundo”, mas disse que ainda está por provar se é mais mortífera ou se o aumento do número de mortes se deve à sua maior transmissibilidade.

O Reino Unido registou 1.001 mortes de Covid-19 até quarta-feira, somando 114.851 desde o início da pandemia Covid-19, o balanço mais alto na Europa e o quinto a nível mundial, atrás dos Estados Unidos, Índia, Brasil e México.