O Governo sul-africano está “perplexo” perante “o silêncio” das autoridades moçambicanas sobre o tipo de apoio internacional que necessitam para enfrentar a violência armada em Cabo Delgado, norte de Moçambique, disse esta sexta-feira à Lusa um porta-voz ministerial.

A ministra [das Relações Internacionais, Naledi Pandor] está perplexa, não entende por que é Moçambique não especifica o tipo de assistência, se precisam de ajuda, mas pode ser que não precisem de ajuda direta da África do Sul ou algo assim, mas eu não posso falar por eles, seriam eles a explicar”, declarou à Lusa o porta-voz ministerial, Lunga Ngqengelele.

“É difícil de entender”, referiu à Lusa o porta-voz da chefe da diplomacia sul-africana, considerando que “Moçambique estaria em melhor posição para explicar”.

Os países da região, reunidos na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), também estão empenhados com a resposta à violência em Cabo Delgado, bem como Portugal, revelou.

“Moçambique faz parte da SADC e os órgãos da SADC estão a discutir as questões de Moçambique, por isso estamos a participar nessas reuniões. Inclusive Portugal é um dos países que está envolvido e também está a tentar fazer com que a SADC desempenhe um papel maior”, disse sexta-feira, em entrevista à Lusa, Lunga Ngqengelele.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que neste semestre detém a presidência do Conselho da União Europeia, realizou em janeiro uma “missão política” a Moçambique, em resposta ao pedido de ajuda de Maputo para acabar com a insurgência armada na província nortenha de Cabo Delgado.

O porta-voz ministerial sul-africano reiterou que o Governo de Moçambique deve especificar a ajuda internacional regional que pediu para combater a violência armada no norte do país, que já causou mais de duas mil mortes e meio milhão de pessoas deslocadas, e onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural.

A África do Sul não tem problemas em ajudar Moçambique através da organização que se chama SADC mas no que se refere a nós, como país, para ajudar o nosso país irmão que é Moçambique, isso significa que Moçambique deve dar o primeiro passo para pedir ajuda e ser específico em termos do que querem para que possamos responder”, frisou Lunga Ngqengelele.

Esclarecimentos que só Maputo pode prestar, acrescentou.

“Se requerem, por exemplo, assistência com vigilância em termos de uso de helicópteros, ou assistência marítima, precisamos de ter um pedido específico vindo de Moçambique que possamos considerar e ser capazes de responder, o que até agora não aconteceu”, adiantou.

“Como vizinhos imediatos há uma expectativa até da imprensa de que tenhamos algum tipo de reunião com Moçambique e daí as questões que nos colocam se relacionarem com o que nós, como país, estamos a fazer, mas a nossa postura, como África do Sul, é a de que não podemos impor-nos”, salientou Lunga Ngqengelele.

Em janeiro, a ministra das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, Naledi Pandor, considerou preocupante a “incapacidade” dos países da África Austral para encontrar uma solução conjunta para a violência armada no norte de Moçambique.

A situação em Moçambique e a nossa incapacidade como SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] em acordar o tipo de apoio conjunto que poderemos providenciar, continua a ser um enigma muito preocupante para nós, o Governo sul-africano”, declarou Naledi Pandor numa videoconferência promovida pelo Instituto de Relações Internacionais do Reino Unido, a partir de Londres.

Em maio passado, a “troika” do órgão de Política, Defesa e Segurança da SADC esteve reunida em Harare, capital do Zimbabué, e comprometeu-se a apoiar o Governo de Moçambique na luta contra os grupos armados em Cabo Delgado, sem, no entanto, avançar mais detalhes.

A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral deverá voltar a adiar para data a definir, por causa da Covid-19, uma cimeira extraordinária de chefes de Estado e Governo prevista para março, e que tinha sido anunciada em dezembro, anunciaram no início deste mês as autoridades moçambicanas que exercem a presidência em exercício do bloco regional.

A província moçambicana de Cabo Delgado está sob ataque desde outubro de 2017, por insurgentes classificados desde o início de 2020 pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma “ameaça terrorista”.