O professor universitário, especialista em defesa e relações internacionais, Sven Biscop alertou segunda-feira para a necessidade de a União Europeia (UE) ter mais operações militares autónomas e presença física no flanco sul, Magrebe e Sahel.

Com os Estados Unidos focados na Ásia e sem interesse no Mediterrâneo e Médio Oriente, é preciso reforçar a linha convencional de defesa da Europa. A UE deve tomar conta da segurança no flanco sul, nomeadamente o Magrebe (Marrocos, Argélia, Tunísia, Mauritânia e Líbia) e o Sahel (Gâmbia, Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Argélia, Níger, Nigéria Camarões, Chade, Sudão, Sudão do Sul, Eritreia, Etiópia, Djibuti e Somália). Eventualmente, com um corpo de exército”, disse Biscop, professor na Universidade de Ghent, Bélgica.

Diretor do programa “Europa no Mundo”, do Centro para as Políticas Europeias e membro honorário do Colégio Europeu de Segurança e Defesa, sob alçada do Serviço Europeu de Ação Externa, Sven Biscop intervinha na conferência internacional virtual “Cooperação EU-NATO”, organizada pelo Instituto da Defesa Nacional, o primeiro de quatro eventos do género preparados no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho Europeu.

A ‘Bússola Estratégica’ (conceitos e políticas estratégicos operativos para a política comum de segurança e defesa) é uma grande oportunidade para redefinir estas coisas. Deve continuar a haver cooperação entre NATO e UE, sim, mas a UE tem de se autonomizar para que Biden [presidente norte-americano] fale connosco. A UE tem de ser relevante”, afirmou o professor na Universidade de Gent e investigador na Universidade Popular da China (Pequim).

Na conferência, o diretor da divisão de investigação da Organização do Atlântico Norte (NATO), em Roma, o francês Thierry Tardy, apontou como “grande obstáculo” para o aprofundamento das relações e melhor coordenação entre membros da Aliança Atlântica aqueles países que não fazem parte de ambas as entidades, como a Turquia, que tem o maior exército do continente — cerca de meio milhão de militares se contabilizados os três ramos das suas forças armadas.

“A questão de Chipre, que não é reconhecido pela Turquia, é um grande empecilho. E a crescente tensão no Mediterrâneo tem levado ao congelamento da interação UE-NATO. Para já, a divisão de tarefas entre UE e NATO nunca foi bem definida e é feita ‘ad hoc’. Estes estados que são apenas membros de uma delas não têm grande interesse na cooperação de ambas. Além disso, não é um jogo de dois jogadores. Há imensas entidades pelo meio: Comissão Europeia, EEAS, etc…”, criticou.

Para Tardy, “no atual contexto, a Europa tem de reforçar a sua Defesa própria e decidir onde. O problema é que não há consenso. Uns querem mais autonomia, outros querem mais NATO”, lamentou.

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