O palmarés de Alex Greenwood é gigantesco. Jogou no Everton e no Liverpool, os grandes rivais de Merseyside, jogou no Lyon, a melhor equipa do mundo, jogou no Manchester United e está agora no Manchester City, completando também a caderneta de outra grande dupla de eternos oponentes. Ganhou a Liga dos Campeões, a liga francesa, a liga inglesa e uma Taça de Inglaterra. Tem perto de 50 internacionalizações e fez parte da seleção inglesa que em 2015 ficou no terceiro lugar do Campeonato do Mundo. É uma das melhores defesas da atualidade, uma das melhores jogadoras da atualidade e um dos maiores exemplos para os milhares de raparigas que querem ser jogadoras de futebol. Mas nem ela escapa ao que, nestes dias, parece inevitável.

“O abuso é completamente esgotante. Sempre soube que a negatividade existe e posso aceitar críticas sobre as minhas performances, mas não consigo compreender os ataques pessoais e as ameaças. Façam tweets sobre os meus jogos, digam que fui terrível, que acham que estive péssima em campo. Não tenho quaisquer problemas com isso. Mesmo que não tenha sido, é completamente ok, porque toda a gente tem direito a uma opinião. Eu também vejo jogos e digo coisas como ‘ele não está a ter uma boa tarde’ ou ‘ela tem estado mal neste jogo’. Mas quando se torna pessoal, é inaceitável. E na maiorias das vezes, o abuso é pessoal”, disse a internacional inglesa ao The Independent, naquela que é a entrevista mais reveladora de uma atleta que sempre manteve a vida pessoal dentro de portas e bem longe do olhar do público.

England v Cameroon: Round Of 16 - 2019 FIFA Women's World Cup France

Com Fran Kirby, a celebrar um golo ao serviço da seleção inglesa durante o Mundial 2019, em França

Mas, apesar dessa forma de atuar muito reservada, Alex Greenwood já tinha sido notícia por este tipo de temas. No último Mundial, em França, foi vítima de centenas de comentários negativos por ter utilizado extensões de pestanas durante os jogos. “Absolutamente ridículo”, garante, mas inofensivo quando comparado com as mensagens que recebeu quando assinou pelo Manchester City, no passado mês de setembro, vinda do Lyon (onde chegou a cruzar-se com Jéssica Silva) e depois de ter sido capitã do Manchester United em anos anteriores. “Também sou adepta de futebol e entendo que nada disto é como mudar de local de trabalho noutra profissão qualquer. Existe um investimento emocional, dinheiro que os adeptos gastam. Entendo a frustração. Mas não acredito que as pessoas tenham noção do quanto me afetou, porque não deixei que o meu futebol sofresse. Estava a ter um grande peso a nível pessoal mas eu estava a jogar melhor do que nunca. Por isso, a assunção geral foi de que eu estava bem”, explicou a lateral, que detalhou ainda a avalanche emocional que sofria sempre que abria as redes sociais.

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“Eu estava destruída. Jogar bem foi provavelmente a minha forma de gerir os momentos mais negros. Eu sei que muita gente diz que temos escolha, que podemos não ler os comentários abusivos, mas vá lá! Mesmo que as notificações estejam desligadas, sempre que vamos às redes sociais para interagir com amigos ou outra coisa qualquer, está lá tudo. E naturalmente, como seres humanos, só registamos os comentários negativos. São esses que ficam na nossa cabeça”, revelou Greenwood, que nos últimos meses tem tentado “concentrar-se no apoio e no encorajamento e não no ódio”. “Estou feliz com quem sou e cheguei à conclusão do quão importante é mostrar a pessoa por detrás da jogadora, porque não quero que os miúdos cresçam a achar que têm de se esconder de alguma forma”, atirou a jogadora de 27 anos.

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O facto de estar numa relação duradoura com Jack O’Connell, central do Sheffield United, era talvez o único pormenor pessoal que se conhecia da vida de Alex Greenwood até esta entrevista. As redes sociais da jogadora do Manchester City limitam-se a incluir fotografias da vida profissional, entre jogos, treinos e estágios — nada que impeça e trave os comentários mais destrutivos. A inglesa, porém, gostaria de que fosse diferente. Gostaria de mostrar o que quisesse, de falar sobre o que quisesse, de usar a plataforma que conquistou para aquilo que pretendesse. A entrevista ao The Independent foi o primeiro passo. “É massivamente importante que usemos as nossas plataformas para forçar uma mudança para melhor. O que o Marcus Rashford fez pelas crianças deste país é inacreditável. E há a Megan Rapinoe, que fala sobre igualdade. Quando ela faz perguntas e não encontra respostas, pergunta outra vez, tal como o Marcus fez. E todos conseguimos ver o impacto positivo que pode ser alcançado”, concluiu Greenwood.

“Isto não é sobre política, é sobre humanidade”. Rashford quer acabar com a fome das crianças em Inglaterra e escreveu ao Parlamento