O deputado da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, pediu esta quarta-feira ao Governo que a líder da oposição da Bielorrússia, Svetlana Tikhanovskaia, não saia “de mãos a abanar” da visita que realiza esta semana a Portugal.

O deputado, que intervinha no debate sobre política setorial do Ministério dos Negócios Estrangeiros, na Assembleia da República, saudou o Governo português por receber a líder da oposição bielorrussa, que visita a Portugal entre quinta feira e domingo.

“Espero que essas conversações sejam produtivas, para que ela não saia daqui de mãos a abanar”, pediu o deputado único da IL, questionando o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, sobre “o que tem para dizer” a Svetlana Tikhanovskaia, visto que “não se vê grande progresso” relativamente às sanções aplicadas aos opressores e apoiantes do regime do presidente Alexander Lukashenko, em vigor há nove meses e estendidas entretanto até 22 de fevereiro de 2022.

As sanções da UE visam altos funcionários responsáveis pela repressão violenta e intimidação de manifestantes pacíficos, membros da oposição e jornalistas na Bielorrússia, bem como os responsáveis por fraudes eleitorais, além de “agentes económicos, empresários proeminentes e empresas que beneficiam e/ou apoiam o regime”. Estas medidas restritivas traduzem-se na proibição de viajar para a UE e no congelamento de bens das 88 pessoas constantes da lista.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na resposta, Augusto Santos Silva afirmou que o executivo português receberá a líder da oposição bielorrussa “com todo o gosto” e frisou que “a Bielorrússia é hoje um dos Estados mais autoritários que a Europa tem”, o que é “inaceitável” quer para Portugal, quer para a UE.

Portugal, que preside atualmente ao Conselho da UE, fará “o que fazem as democracias”, disse, lembrando que estão definidos e aprovados “regimes de sanções que se dirigem especificamente a pessoas singulares e coletivas” da Bielorrússia, incluindo ao próprio presidente Lukashenko.

“Trabalhamos diplomática e politicamente com o isolamento do regime e o apoio à sociedade civil”, reiterou o ministro.

Svetlana Tikhanovskaia anunciou esta semana que visitará Portugal entre quinta-feira e domingo, tendo previstos encontros com o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

“Anuncio a minha primeira visita a Portugal entre 4 e 7 de março. Teremos encontros com o primeiro-ministro, António Costa, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e com [o ex-presidente da Comissão Europeia] José Manuel Durão Barroso para discutir a crise na Bielorrússia e o apoio aos bielorrussos”, escreveu a dirigente oposicionista no Twitter.

À rádio TSF, em 26 de fevereiro, a líder opositora afirmou que a visita a Portugal se justifica por Portugal presidir neste semestre à União Europeia (UE), o que “pode ser muito útil” para a situação na Bielorrússia.

Nessas declarações, Svetlana Tikhanovskaya afirmou não estar “desiludida” com a UE, apontando que a União “fez um grande trabalho em relação à Bielorrússia” ao não reconhecer a reeleição de Alexander Lukashenko, em agosto, mas disse precisar “tremendamente de apoio por parte da UE face aos abusos dos direitos humanos” no país.

A Bielorrússia atravessa uma crise política desde as eleições de 9 de agosto, que segundo os resultados oficiais reconduziram o Presidente Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos, para um sexto mandato, com 80% dos votos.

A oposição denuncia a eleição como fraudulenta e milhares de bielorrussos têm saído às ruas por todo o país para exigir o afastamento de Lukashenko, manifestações reprimidas com violência pelas forças de segurança da Bielorrússia.