The Black Mamba são os vencedores do Festival da Canção, com o tema “Love is on My Side”, o primeiro em inglês a ganhar o concurso. A banda com dez anos de carreira vai representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção em Roterdão, nos Países Baixos. Reagindo ao resultado, o grupo mostrou-se surpreso por vencer com uma canção em língua inglesa, admitindo que nunca esperou que fosse possível ganhar.

Formados em 2010 por Tatanka, Ciro Cruz e Miguel Casais, os The Black Mamba contam com um percurso de sucesso, sempre ligado aos universos do blues, soul e funk. O vocalista Pedro Taborda, ou Tatanka, como é conhecido, um dos compositores convidados desta edição do Festival da Canção e autor da canção vencedora, lançou-se a solo em 2016. Tem um disco editado, Pouco Barulho, de 2019.

[A atuação dos The Black Mamba na final do Festival da Canção de 2021:]

Os The Black Mamba iniciaram-se nos lançamentos em 2012, com um álbum homónimo que esgotou nas lojas físicas e chegou a número um no top de vendas do iTunes. The Black Mamba foi o primeiro grande sucesso do grupo — levou-os em digressão a paragens distantes quanto Filadélfia, Brasil ou Angola –, mas não foi o único. O segundo álbum, Dirty Little Brother, que contou com a participação de vários artistas portugueses, como Áurea ou António Zambujo, foi igualmente bem recebido pelo público e o seu lançamento acompanhado por uma nova tour nacional e internacional.

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Em outubro de 2018, os The Black Mamba editaram The Mamba King, mote para uma nova digressão em 2019, que serviu para celebrar os dez anos de carreira com um regresso às origens: em trio, como no início de tudo. A “Good Times Tour” terminou no final de fevereiro de 2020, pouco antes do início da pandemia e do encerramento das salas de espetáculos. Em junho, integraram o cartaz do Festival Regresso ao Futuro, que marcou o retomar da atividade musical após o confinamento e que juntou cerca de 20 bandas nacionais. A banda tocou no dia 20 de junho, em Aveiro, no Teatro Aveirense.

Tatanka: “Sabíamos que era muito difícil bater as canções em português”

Numa primeira reação após o anúncio do vencedor deste Festival da Canção, os The Black Mamba mostraram-se contentes, mas surpresos por terem vencido o concurso. Respondendo a perguntas dos jornalistas, colocadas por Joana Martins na emissão online do evento, o vocalista Tatanka admitiu que não estavam à espera “por uma questão muito simples” — por o tema que apresentaram ser em inglês. Esta é a primeira vez que uma canção com letra em língua inglesa vence o Festival da Canção.

“Não estávamos à espera por causa disso. Sabíamos que era muito difícil bater as canções, e lindas cantigas que tínhamos em português como a da Carolina, a da Joana Alegre, a do Filipe Melo. Tínhamos canções lindas em português e os únicos comentários não tão bons que tínhamos nas redes eram sobre a cantiga não ser em português”, disse o vocalista, que compôs “Love is on My Side” enquanto compositor convidado desta edição.

Apesar da dificuldade aparente em apresentar uma canção em inglês, a banda considera que, ao fazê-lo, foi “coerente” em relação ao seu próprio percurso.

Durante a curta entrevista, Tatanka explicou a origem do tema, inspirado na história verídica de uma mulher que a banda conheceu em Amesterdão durante a digressão de 2018. “Esta canção é a história dela. Saiu dos países do leste cheia de sonhos, cheia de paixões, depois [teve] problemas de toxicodependência que a levaram à prostituição. Apesar de a vida ter sido tão chunga para ela, ela sempre acreditou que o amor sempre esteve do lado dela. A história é essa história.”

O vocalista revelou que a escolha do tema foi deliberado. “Isto é na esperança que ela oiça e diga: isto é a minha história. Os astros alinharam-se desta forma. Não é Amesterdão, é Roterdão, mas é a Holanda. Vamos cantar esta canção que nasceu lá.”

Os The Black Mamba consideram “uma honra” representar Portugal na Eurovisão e esperam que a participação no concurso internacional de música, que se vai realizar em maio, lhes traga novas oportunidades e novos públicos. “Sempre almejámos ir lá para fora, exportar a nossa música. É uma oportunidade grande para podermos levar a nossa música além fronteiras.”

(PEDRO PINA/RTP)

Black Mamba e Carolina Deslandes tiveram pontuações iguais, mas o público desempatou

Os The Black Mamba foram selecionados de um grupo de dez finalistas, que incluía os artistas Karetus & Romeu Bairos, Joana Alegre, Fábia Maia, Valéria, Carolina Deslandes, NEEV, Pedro Gonçalves, Sara Afonso e EU.CLIDES, apurados em duas semifinais, que decorreram nos dias 20 e 27 de fevereiro, nos estúdios da RTP, em Lisboa. A banda participou na primeira.

O vencedor foi escolhido seguindo o modelo habitual das finais do Festival da Canção, isto é, somando as opiniões de um júri regional que juntou os votos das sete regiões do país. Este atribuiu a pontuação mais alta ao tema “Por um Triz”, de Carolina Deslandes. A opinião dos jurados teve um peso de 50%, cabendo a outra metade ao voto do público, que tem a última palavra em caso de desempate. Foi isso que aconteceu este sábado à noite — The Black Mamba, que estavam empatados com Carolina Deslandes, foram considerados vencedores por terem recebido a pontuação mais alta por parte dos espectadores.

No ano passado, a vencedora do Festival da Canção foi Elisa, que interpretou o tema “Medo de Sentir”, canção escrita por Marta Carvalho. O tema deveria ter representado Portugal na Eurovisão, mas o festival foi adiado devido à Covid-19. Este ano, o evento musical irá decorrer nos dias 18, 20 e 22 de maio.

Devido à atual situação pandémica, as atuações serão gravadas previamente e transmitidas durante o concurso que irá decorrer em Roterdão, nos Países Baixos, de onde é originário o vencedor de 2019, Duncan Laurence.

[O tema de Carolina Deslandes que ficou empatado com o de Black Mamba:]

Uma noite de homenagens num “novo normal”

A final do Festival da Canção de 2021 aconteceu este sábado à noite. O evento, que costuma decorrer numa sala de espetáculos portuguesa, foi apresentado por Filomena Cautela e Vasco Palmeirim nos estúdios da RTP, em Lisboa, sem a presença de público. A ausência, provocada pela pandemia do novo coronavírus, foi o tema da canção de abertura, uma versão de “Playback” de Carlos Paião, cantada por Cautela, Palmeirm e Inês Lopes Gonçalves. A “cantar p’ró boneco”, os três apresentadores mostraram as instalações vazias da RTP — até que foram interrompidos por Serenela Andrade e Catarina Furtado.

A noite foi rica em homenagens. A principal foi a Carlos do Carmo, que morreu no primeiro dia do ano, aos 81 anos. Os fadistas Ricardo Ribeiro, Ana Moura e Camané interpretaram os temas “Estrela da Tarde”, “Uma Flor de Verde Pinho”, “No Teu Poema” e “Lisboa Menina e Moça”, que Carmo apresentou no mítico Festival da Canção de 1976, onde deu voz a todas as canções a concurso.

Dino D’Santiago reinventou um dos temas mais conhecidos do fadista, “Os Putos”. No final da atuação este sábado, o músico contou que ficou relutante após ter aceitado o convite, perguntando-se se seria capaz de “fazer isto”. Mas a vontade de participar na homenagem a Carlos do Carmo “no palco mais nobre que o país tem, que é o do Festival da Canção”, foi mais forte.

[Dino D’Santiago a cantar “Os Putos”, de Carlos do Carmo, no Festival da Canção:]

Dino transformou “Os Putos” do tempo de Carlos do Carmo nos putos da “nova Lisboa”, onde existe uma “cultura de mistura”, mais evidente na parte final do tema, onde o músico colocou algumas frases em crioulo, um lamento que dizia: “Carlos, Carlos, Carlos, onde estás, Carlos, Carlos, Carlos para onde foste”. “O que é certo é que estás no nosso coração”, afirmou o músico, agradecendo à RTP pelo convite.

Os Clã, acompanhados por Cláudia Pascoal e Filipe Sambado, que passaram recentemente pelo Festival da Canção, recordaram temas de Mudam-se Os Tempos Mudam-se As Vontades, Cantigas do Maio e Os Sobreviventes, os álbuns de estreia de José Mário Branco, José Afonso e Sérgio Godinho. Godinho juntou-se à banda no final da atuação, para interpretar um novo tema, composto durante a pandemia, “Novo Normal”.

Antes de se conhecer o vencedor, Filomena Cautela, Vasco Palmerim e Inês Lopes Gonçalves juntaram-se mais uma vez em palco para uma última canção. Lado a lado, cantaram para os espectadores: “Eu sei que queriam, mas não podem votar em nós”.