Quase metade (47%) dos jovens sírios sofreu com a morte de um familiar ou amigo próximo em consequência da guerra que o país vive há dez anos, revela esta quarta-feira uma investigação do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
De acordo com os resultados da investigação, na qual participaram 1.400 sírios com idades entre 18 e 25 anos na Síria, Líbano e Alemanha, 16% dos entrevistados indicaram que pelo menos um dos seus pais foi “morto ou gravemente ferido”. Além disso, 12% dos jovens da Síria, um país onde mais da metade da população tem menos de 25 anos, sofreram ferimentos devido ao conflito.
No seu país de origem, no Líbano ou na Alemanha, para onde fugiram da devastação e da miséria, esses jovens falaram da destruição de famílias e amigos, das enormes dificuldades e preocupações económicas, mas também do profundo fardo psicológico após dez anos de incessante violência.
Cerca de 62% dos jovens foram forçados a deixar as suas casas, enquanto quase metade deles perdeu a sua fonte de rendimento por causa da guerra. A dramática situação fez com que 77% dos entrevistados no estrangeiro indicassem que tiveram dificuldade em encontrar ou adquirir alimentos e outras necessidades básicas. Na Síria, esse percentual sobe para 85%.
De acordo com a investigação, as oportunidades económicas e de trabalho estão em primeiro lugar no que os sírios mais precisam, seguido pelos cuidados de saúde, educação e assistência psicológica. No Líbano, onde segundo a ONU 880.414 refugiados sírios estão registados, a principal preocupação dos jovens é o acesso à “ajuda humanitária”. O impacto da guerra nos setores económico e laboral causou estragos, especialmente entre as mulheres, já que, de acordo com o CICV, 30% das mulheres sírias não recebem nenhum tipo de renda para sustentar a sua família.
A questão psicológica também tem sido um dos principais fatores de sofrimento para os entrevistados, já que no último ano 54% dos jovens tiveram distúrbios do sono, 73% ansiedade e 58% depressão, enquanto 46% sentiram solidão por causa do conflito. Por esse motivo, os jovens entrevistados nos três países disseram ao CICV que o acesso ao atendimento psicológico era um dos serviços de que mais precisavam.
O diretor-geral do CICV, Robert Mardini, disse que os dez anos de guerra foram “uma década de perdas selvagens para todos os sírios“, especialmente para os jovens, que sofreram a morte de seus entes queridos e a perda “do controlo de seu próprio futuro”.
O conflito sírio, que começou em 15 de março de 2011 e ainda está ativo, devastou o país e quase 5,6 milhões de habitantes fugiram para outras partes do mundo, enquanto 6,6 milhões de sírios estão deslocados no seu próprio país, segundo dados do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).