Desde 30 de outubro que todos os cinemas e teatros estão encerrados em França, como medida de combate à pandemia de Covid-19, por isso os protestos, que ao longo da semana que passou levaram à ocupação de uma série de salas de espetáculo em todo o país, também eram esperados naquela que é a maior cerimónia de entrega de prémios da indústria cinematográfica francesa.

Esta sexta-feira à noite, no mítico Olympia, em Paris, Corinne Masiero não foi a única a indignar-se contra o governo, que mantém a cultura em confinamento mas outras áreas da sociedade, que começaram a reabrir em dezembro, não. Como criticou o produtor e realizador Stephane Demoustier, ao receber o galardão para o melhor argumento, “Os meus filhos podem ir à Zara mas não ao cinema… é incompreensível”. Ainda assim, o protesto da atriz, de 57 anos, é o que vai entrar para a história dos Césares.

Convidada para apresentar o prémio para o melhor guarda-roupa, Masiero, protagonista da série “Capitaine Marleau”, subiu ao palco a dançar, coberta por uma máscara de burro, com a cara e o corpo salpicados de um líquido vermelho a querer imitar sangue.

Perante o olhar incrédulo da apresentadora e da plateia, com distanciamento social e de máscara, a atriz tratou de tirar primeiro a máscara e depois o vestido que trazia por baixo, para no final ficar completamente nua, apenas com dois tampões pendurados nas orelhas, à laia de brincos. No tronco e nas costas trazia escritas as palavras de ordem que entretanto já começaram a correr mundo: “Sem cultura não há futuro” e “Devolve-nos a arte, Jean”, numa interpelação direta ao primeiro-ministro Jean Castex.

Aplaudida pelos presentes, no final do peculiar protesto Corinne Masiero quase se esqueceu de apresentar os nomeados — pretexto com que subira ao palco três minutos antes. O prémio para o melhor guarda-roupa foi para a comédia negra de Albert Dupontel “Adieu les cons”, o grande vencedor da noite, que arrecadou sete galardões no total — incluindo o César de melhor filme e melhor realizador.

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