É oficial: Nuno Graciano é o candidato do Chega à Câmara Municipal de Lisboa. A apresentação de candidatura foi no exterior do Padrão dos Descobrimentos, teve referências ao monumento nacional e terminou com o hino nacional. No discurso de apresentação, Nuno Graciano atirou-se à “esquerda doentia” e à “libertinagem” e garantiu que “saiu do sofá” para combater os discursos de ódio de que já tem sido alvo nos últimos dias.

No final de 2016, no podcast Maluco Beleza, Nuno Graciano já tinha afirmado “que o principal inimigo da democracia era a própria democracia” e esta terça-feira justificou a afirmação antes ainda de ser questionado pelo tema. “Liberdade não é a mesma coisa que libertinagem. Defendo a democracia, mas não a libertinagem”, realçou, ao assegurar que é “um democrata”.

Poucos dias depois de ser conhecido como candidato do Chega, Graciano admitiu que “nunca” imaginou “sentir os alvos” em que os filhos de tornaram. “Nunca me passou pela cabeça que fosse desta forma. Na sexta-feira foi lançado o meu nome, ainda não abri a boca e neste momento os meus filhos e eu fomos tão martirizados que pergunto onde está a democracia. Isto é que é a democracia?”, questiona perante uma plateia com cerca de 100 pessoas.

“Há uma esquerda doentia, absolutamente doentia, neste país que não nos permite falar, que nos quer vergar, que não quer que nós digamos as nossas opiniões pelo facto de sermos diferentes”, ataca, dizendo que tem recebido centenas de ameaças nas redes sociais, entre elas uma frase que fez questão de referir na apresentação: “Graciano bom é Graciano morto.” “Que coisa tão simpática para um homem de 52 anos, pai de quatro filhos, que apenas se manifestou a favor de um partido e um projeto para a capital do país. Que bela democracia que temos em Portugal”, ironizou.

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Mais tarde, voltou ainda ao tema da esquerda para dizer que “à esquerda tudo é permitido, tudo pode ser dito”. “É a tal esquerda caviar”, atirou. “Parece que a esquerda neste país pode dizer rigorosamente tudo e a direita se diz alguma coisa é acusada de extrema-direita”, voltou a criticar o antigo apresentador de televisão.

O candidato do Chega a Lisboa deixou ainda uma palavra ainda para as minorias. “Não me revejo em nada melhor do que ninguém, mas também não acho que seja pior do que ninguém. Acho que somos todos iguais, desde que cumpramos com as nossas obrigações, somos todos iguais“, ressalvou. “Sou a favor de todas as minorias, nem vejo nem sei o que são minorias, desde que todos os cidadãos cumpram com regras patrióticas do nosso país”, justificou.

Nuno Graciano afirmou que não se revê no “discurso de ódio sem pés na cabeça”, o que o levou a “sair do sofá” para juntar “à família Chega” que, disse, “recebe bem”. “Sinto-me em casa, bem acolhido e bem amado”, acrescentou.  O antigo apresentador de televisão garantiu que “primeira grande lição” que teve no Chega “foi democracia”, poder pensar “pela própria cabeça e ter opinião”. O agora candidato à autarquia da capital afirmou é esta postura que “torna o Chega um partido uníssono”, em que “não há fraturas”, mas sim “opiniões divergentes”.

Sobre Lisboa, afirmou que a cidade precisa de “um abanão”, disse estar a “estudar pastas” e apontou “vários problemas muito graves”. Contudo, há tempo para trabalhar no projeto para a capital.

Ventura ataca Moedas, que diz que apenas “daria para gerente de um banco”

André Ventura começa por dizer que o Chega tem “orgulho na história de Portugal” e que “é a cara do orgulho na História de Portugal” e escolheu o Padrão dos Descobrimentos por essa mesma razão e “porque muitos querem destrui-lo”. “Esta candidatura é a expressão maior de que o politicamente correto nunca nos amordaçará e de que o sistema nunca nos calará e de que nós, quando todos pensam que nos fazem um cerco sanitário temos a força de o romper, atirou o líder do partido. Nuno Graciano é um “excelente candidato” e o Chega um “excelente projeto”, afirmou, num agradecimento à distrital de Lisboa por ter um candidato que “não é apenas para fazer número”.

“Nuno Graciano é um lutador, sabe que estar em cima pode ser uma passagem para poder estar em baixo. É alguém que sabe que se não lutarmos ninguém nos dá nada. O Nuno é o símbolo daquilo que somos e queremos ser, um partido que nunca se resigna”, comparou o líder do Chega. Ventura diz que o partido “vai sempre lutar por mais, mesmo quando muitos os tentam amordaçar”. “Não podíamos ter um candidato que não fosse essa expressão”, elogiou o líder do partido, referindo-se à notoriedade, mas também pelo “exemplo de humildade”. Ventura afirmou que “no Chega se premeia o mérito, o trabalho e os que nunca desistem”, acrescentando que o partido tem “candidatura forte, firme e de valores” e que é um “desafio” na vida de Nuno Graciano.

André Ventura destacou ainda que o Chega podia ter optado por um caminho diferente, mas optou por “arriscar convicções”. Contudo, não esqueceu a megacoligação de Moedas que não incluiu o Chega. “Aqui na Câmara de Lisboa, onde tinham pensado que nos isolavam, onde tinham pensado que nos deixariam fora da solução de disputa com um candidato que mais não tem feito do que destruir a cidade, como é o caso de Fernando Medina, e com outro candidato que daria para gerente de um banco, mas nunca para gerente da cidade de Lisboa“, afirmou o líder do partido. “Pensavam que estaríamos fora dessa disputa (…) e eis que apresentámos uma candidatura forte, firme e de valores”, atirou.

Pouco antes, Pedro Pessanha, presidente da distrital de Lisboa, deu as boas-vindas a Nuno Graciano, dizendo que para pertencer à família é preciso “caráter e coragem”. O líder da capital fala num “grande desafio”, mas espera “festejar uma vitória” nas eleições autárquicas.

O cabeça de lista do Chega à maior câmara do país tem 52 anos, esteve mais de 20 anos nos ecrãs portugueses como apresentador televisivo e há cinco anos mudou de vida, sendo agora empresário de uma marca de queijo regional.

Chega aposta em Nuno Graciano para se meter na luta entre Medina e Moedas

O apresentador reúne algumas condições que o Chega considera essenciais. Primeiro, porque está em condições de dar a cara pelo partido sem receio de ser investigado até à exaustão: tem um perfil público, está habituado a ser escrutinado e tem um percurso feito nos meios da comunicação social.

O partido acredita também que Nuno Graciano vai beneficiar do efeito “André Ventura” em Lisboa e pode gozar de outra vantagem: um certo afastamento que o partido entende existir entre eleitos e eleitores, políticos e cidadãos. Graciano, não tendo experiência política, pode ter essa vantagem.

Ainda antes da apresentação oficial, André Ventura confirmou no Twitter que Nuno Graciano era o eleito do Chega para Lisboa. O presidente do partido agradeceu a “disponibilidade” e “entrega” do antigo apresentador de televisão e deixou um repto: “Vamos à luta”.

A escolha do local de apresentação da candidatura a Lisboa não foi inocente. Bem junto ao rio Tejo, com a Ponte 25 de Abril de fundo, o Chega apresentou Nuno Graciano junto ao Padrão dos Descobrimentos, pouco tempo depois da polémica proposta do deputado do PS Ascenso Simões para demolir o monumento. Nessa altura, André Ventura criticou Joacine Katar Moreira por concordar.

“Temos uma deputada na Assembleia da República que quer preservar a ‘memória islâmica’ mas não hesita em querer destruir os monumentos da nossa herança civilizacional!”, escreveu o líder do Chega no Twitter. O tema não ficou esquecido e o partido responde agora ao apresentar Nuno Graciano no Padrão dos Descobrimentos.