A AstraZeneca afirmou que não encontrou qualquer associação entre os casos de tromboembolismo detetados em alguns países da União Europeia e a vacinação contra a Covid-19. Até agora, a teoria era que essa associação podia existir mesmo, pelo menos em alguns dos casos relatados até agora, mas que seriam raros e, de resto, normais e comuns a outros medicamentos — tanto que, na Alemanha, uma equipa de investigadores descreveu como o aumento de anticorpos contra o SARS-CoV-2 induzido pela vacina podia levar a um aumento de concentração de plaquetas no sangue. A AstraZeneca diz, no entanto, que os casos de coagulação sanguínea não foram provocados pela vacina.

O anúncio da farmacêutica surge depois de vários países europeus terem decidido suspender temporariamente a administração da vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford após a identificação de casos de tromboembolismo em pessoas que tinham sido vacinadas. A medida, tomada por precaução, é levantada esta segunda-feira em Portugal Continental (na Madeira e Açores foi levantada no sábado), após a Agência Europeia do Medicamento ter realizado na semana passada uma investigação que concluiu que a vacina “não está associada a um aumento do risco de eventos tromboembólicos responsáveis pelos coágulos sanguíneos”, assegurando que “as pessoas podem confiar na vacina”.

Também a Organização Mundial de Saúde recomendou a continuação da vacinação, estimando “que o balanço risco/benefício está a inclinar-se a favor da vacina AstraZeneca e recomenda que as vacinas continuem” a ser administradas.

O estudo norte-americano, cujos resultados surgem precisamente numa altura em que a Europa se prepara para retomar a imunização com a vacina da AstraZenaca após a suspensão decretada por suspeita de estar associada a tais casos de tromboembolismo, abrangeu mais de 32 mil participantes de diferentes as idades. Perto de 60% tinha comorbilidades, como diabetes, obesidade ou doença cardíaca, que fazem aumentar os riscos associados à Covid-19, refere por sua vez uma nota emitida pela farmacêutica. As duas doses da vacina ou de um placebo foram administradas com um intervalo de quatro semanas.

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Segundo a farmacêutica, “a vacina foi bem tolerada” por todos os participantes, não tendo sido “comunicados problemas de segurança”. O ensaio olhou em específico para as preocupações relacionadas com os casos de tromboembolismo, contando para isso com a ajuda de um neurologista independente. Também neste ponto não foram detetados riscos acrescidos “de trombose ou de eventos caracterizados por trombose entre os 21.586 participantes que receberam pelo menos uma dose da vacina”, garantiu a AstraZeneca.

Apesar desses receios levantados por vários países europeus em relação à vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca, um ensaio clínico realizado nos Estados Unidos em parceria com Chile e Peru concluiu que o tratamento é “seguro e altamente eficaz”. Segundo um comunicado emitido esta segunda-feira pela Universidade de Oxford, que desenvolveu a vacina em conjunto com a farmacêutica com sede em Inglaterra, os resultados coincidem com o que já tinha sido concluído em testes realizados no Reino Unido, Brasil e África do Sul, “assim como aos dados reais do impacto do Reino Unido”.

A vacina demonstrou ter uma eficácia de 79% na prevenção de sintomas de Covid-19 e de 100% na prevenção de doença grave e hospitalização. Entre os participantes com mais de 65 anos (cerca de 20% do total), a eficácia foi de 80%. De acordo com a Universidade de Oxford, “a eficácia absoluta é maior neste novo estudo do que a observada nos estudos realizados em Oxford”. Esta é “afetada pela definição do caso de protocolo (maior para os casos mais graves) e pela população onde o estudo é conduzido”.

Os resultados do estudo serão publicados numa revista científica e submetidos para análise aos reguladores dos Estados Unidos, onde a vacina aguarda ainda aprovação. A AstraZeneca vai emitir um pedido de aprovação à Food and Drug Administration (FDA) na primeira metade de abril, que receberá um primeiro lote de 30 milhões de doses e um segundo de 20 milhões no primeiro mês após a aprovação.

Os dados já foram apresentados ao governo norte-americano que, segundo a AstraZeneca, se demonstrou entusiasmado com os resultados do estudo nos Estados Unidos. Todas as doses destinadas aos Estados Unidos serão produzidas lá, o que facilita a entrega, justifica a AstraZeneca. A maior parte das doses destinadas à União Europeia são produzidas na Bélgica ou também nos Estados Unidos, justifica a farmacêutica, garatindo que que está a fazer todos os esforços para cumprir as entregas na Europa.