Entre tijolos, sacas de cimento e andaimes e toda a obra de requalificação da escola secundária de Camões (o antigo Liceu Camões de Lisboa), primeiro-ministro e o ministro da Educação iam apreciando salas de aula em reconstrução e ali mesmo no meio do pó, que sujava fatos e sapatos da comitiva engravatada, prometeram que a crise que aí está não vai implicar parar o investimento público. A pandemia no centro de tudo, mais uma vez, num palco sem alunos que estão lado em monoblocos, mas em aulas que o Governo não quer que parem, apenas em caso de surto.

Já se sabe há duas semanas, que o Governo só fechará escolas a nível nacional, ou seja, não há fechos localizados por maior incidência da pandemia num concelho concreto. Mas esta terça-feira ficou a saber-se que esse entendimento “não exclui que, em caso de surto numa escola – como já houve no passado -, não haja uma intervenção pontual numa escola”. O primeiro-ministro apoia-se nos especialistas e sobretudo no epidemiologista Henrique de Barros que tem sido um constante defensor de escolas abertas, mesmo em janeiro passado quando o grupo de peritos que aconselha o Governo se dividiu (e no final desse mês acabou por trazer a suspensão das aulas presenciais). É neste especialista que Costa se apoia para afirmar que “as escolas são um lugar seguro” e que o fecho nacional que é aconselhado “tem a ver com a igualdade de oportunidades”. Mas um surto pode fazer mudar tudo.

O primeiro-ministro coloca, nesta fase, grande pressão neste setor — o primeiro a desconfinar –, sobretudo porque este fim de semana vai acontecer um primeiro momento de vacinação em massa de professores — 80 mil previstos em dois dias — e Costa quer que isso sirva de “teste à capacidade de funcionamento dos postos de vacinação” por todo o país. Até porque em maio, lembrou, “vamos ter de vacinar 100 mil pessoas por dia” e estes dois dias serão, assim, um “ensaio”.

No pátio feito estaleiro de obras do Liceu Camões, foi o ministro da Educação que falou primeiro revelando a “alegria de estar no meio de uma obra” e que são as escolas “o lugar ideal” para estarem os professores, pessoas não docente e alunos. Depois é que interveio António Costa, para assinalar uma “obra particularmente simbólica”, já que foi uma das que não avançou na crise anterior quando o Governo que estava em funções — PSD/CDS, liderado por Pedro Passos Coelho — “parou o investimento público”. “Agora entendemos acelerar o investimento público”, disse Costa apontando o aumento de 20% previsto para este ano neste capítulo. E isto para dar “o sinal claro de que a recuperação do país passa pelo investimento público, mas também muito pela educação”.

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A requalificação daquela escola tem um custo total na ordem dos 16 milhões de euros e a primeira fase da obra estará, segundo as previsões da Parque Escolar, terminada em setembro de 2021, altura em que o edifício central do Camões pode ser ocupado por alguns alunos e avançar a segunda fase da obra que estará completa em julho de 2022.

Da importância da obra e da educação passou para a tal convicção de manter os alunos em aulas presenciais, mas com o aviso claro que é preciso “trabalhar para que o desconfinamento corra bem” e “lutar pelo controlo da pandemia”.  É por isto que entende ser “necessário manter o estado de emergência para garantir que todos os passos são dados com segurança” durante o processo de desconfinamento, que termina em maio. Uma posição que vão ao encontro da que o Presidente da República tinha revelado no dia anterior, também durante uma visita à escola Parque Silva Porto, em Benfica.

Presidente da República considera “muito provável” que haja estado de emergência até maio

Na próxima quinta-feira, dia 26, começam as restrições de circulação entre concelhos que vão vigorar até depois da Páscoa. E esta quinta-feira será aprovada mais uma renovação do estado de emergência, que não será a última. Já quanto à fiscalização desta medida concreta, o primeiro-ministro não responde de forma direta, diz antes que “o primeiro controlo é de nos próprios”. “Isto não é um jogo entre o Governo, que impõe restrições para chatear, e as pessoas que tentam contornar as restrições fugindo à polícia”, atirou em resposta às perguntas dos jornalistas. “A sociedade tem de se mostrar responsável”, desafiou.

Feita a vistoria à obra e definidos os objetivos para os próximos dias da pandemia, António Costa sacudiu o pó dos sapatos e seguiu, não sem antes sacudir uma pergunta que trazia as autárquicas e a dissidência com o ministro da Administração Interna no bico. Mas sobre isso Costa não queria mesmo dizer mais do que “as eleições autárquicas serão só em setembro. Teremos muito tempo para falar”.

Costa discorda de Cabrita e rejeita autárquicas em dois dias. Ideia é “muito perigosa”