A tensão no topo das Forças Armadas tem vindo a agravar-se e foi tema na reunião do Conselho de Estado, com António Ramalho Eanes a ter a voz mais severa. O antigo Presidente da República não adianta pormenores sobre o que se passou dentro de portas, mas diz ao Expresso é preciso melhorar o sistema sem “atropelos” à instituição. João Gomes Cravinho insiste na importância da reforma e afirma que noutros países também houve críticas por “interesses corporativos”.

Em causa está a reforma do Governo para as Forças Armadas, que tem o apoio do PSD e que tem sido alvo de duras críticas. Até agora, vários antigos chefes militares revelaram ser contra a possibilidade de alterar a estrutura superior e, segundo o semanário, entre os críticos está António Ramalho Eanes e o general Garcia Leandro, que escreveu um artigo no Público onde questiona se o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), o almirante Silva Ribeiro, tem “condições para continuar”, sendo que que “nunca cumprirá a sua missão se não merecer a confiança daqueles que dele dependem”. Por outro lado, quase 40 oficiais-generais assinaram um documento para Belém que refere “erros gravosos” e soluções “simplistas” na reforma.

Depois de o Conselho Superior de Defesa Nacional ter dado “luz verde” às reformas do Governo nas Forças Armadas e de João Gomes Cravinho já ter dito que pretende obter um consenso o mais abrangente possível para fazer alterações na legislação, o ministro da Defesa não travou o confronto com os militares e sustentou que noutros países também houve resistências a reformas deste género devido a “interesses corporativos”. O governante acusa os opositores de “mistificações e caricaturas” em relação às alterações.

A reforma em causa pretende a “minimização de redundâncias de competências e de estruturas e o esclarecimento de situações que podem ser equívocas quanto à linha de comando”, com o intuito de promover uma “maior eficácia” do comando operacional conjunto que permita “coordenar melhor os meios navais, terrestres e aéreos e cada vez mais também os espaciais e cibernéticos”.

No debate, que segue agora para a Assembleia da República, António Filipe admite ao Expresso que se possam chamar antigos chefes das Forças Armadas para falar sobre o tema, tendo em conta que “as opiniões não são muito favoráveis, e alertam que as experiências que se fizeram não deram grande resultado, como a reforma da saúde militar”.

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