O dia é “histórico”, símbolo de uma nova “primavera” e de uma “viragem” para o país. As palavras são de Marcelo Rebelo de Sousa, que esta segunda-feira esteve presente numa escola lisboeta para assinalar o regresso às aulas presenciais de meio milhão de alunos dos 2.º e 3.º ciclos. Mas se as declarações do Presidente da República parecem otimistas, a verdade é que vieram acompanhadas por avisos, cautelas e um olhar já virado para os desafios do futuro.

Neste início de “uma nova primavera” decretada pelo presidente — mas também neste dia de arranque da segunda fase do plano de desconfinamento, numa altura em que alguns especialistas temem que possa vir aí uma quarta vaga –, Marcelo quis deixar avisos e lembretes. Desde logo, pediu um “esforço nacional” para que este desconfinamento — que está, notou, a acontecer “mais cedo” do que noutros países europeus — seja “consolidado” e, sobretudo, “irreversível”.

Crucial para que isso aconteça será o bom comportamento dos portugueses “em particular no mês de abril”, frisou Marcelo. E concretizou: “É um esforço de todos os dias, em particular no mês de abril. É em abril que se consolida este processo do desconfinamento. Se correr bem, quando chegarmos a maio e depois a junho já teremos ultrapassado aquilo que é o plano de desconfinamento”, antecipou Marcelo.

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Para isso, pediu, será preciso que não haja descuidos — nem excesso de entusiasmo — na etapa que se segue e que prevê a reabertura das aulas presenciais para muitos alunos, mas também das esplanadas e de parte das lojas.

Marcelo quer fundos europeus para “reconstruir economia”

Os alertas do presidente, que falava ao lado do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, não se ficaram por aqui. É que além da parte sanitária é preciso olhar para os seus impactos a nível económico e social — e, nesse sentido, Marcelo pressiona para que o foco não se fique apenas pela “recuperação” do país e que seja mais ambicioso, numa visão de “futuro”.

Depois de o Expresso ter noticiado, na semana passada, que depois do caso dos apoios sociais (que promulgou contra a vontade do Governo) o presidente viraria a agulha para o tema da economia, Marcelo confirmou que irá esta segunda-feira receber o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, em Belém, seguindo-se, nas próximas semanas, o autor da primeira versão do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), António Costa Silva, e um desfile de empresários, gestores e economistas.

À medida que se “aproxima o instante” em que o Executivo apresentará a versão final do PRR em Bruxelas, Marcelo quer saber também como é que o Governo “vê o processo”. E, previsivelmente, quererá transmitir-lhe a sua visão, que esta segunda-feira já foi explicando: é preciso uma “viragem” para “reconstruir” a economia nos próximos anos.

“À medida que estamos a abrir, estamos também a iniciar uma nova fase, uma fase de recuperação económica e social. Tudo tem a ver com tudo. Esta viragem significa que vamos agora olhar um bocadinho para o que vai ser a vida do país nos próximos anos, em termos não apenas de recuperar mas de reconstruir, virando para o futuro a economia e a sociedade portuguesa”, concretizou Marcelo.

Quanto aos fundos europeus, fez questão de avisar, não devem ser aplicados sem uma visão de longo prazo: é preciso “aproveitar para, além de recuperar dos efeitos da pandemia, olhar para o futuro do país”.

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Objetivo? Puxar a si uma pasta que quer no topo das prioridades do país. A gestão da bazuca europeia e dos fundos até 2027 é, no plano executivo, da responsabilidade do Governo, lembrou Marcelo, para acrescentar logo de seguida que, ainda assim, trata-se de um “esforço conjunto”. Por isso mesmo, no dia 16, adiantou, receberá já uma equipa do Governo em Belém, encabeçada pelo ministro do Planeamento, Nelson de Souza.