Os anticorpos humanos usados nos tratamentos contra a Covid-19 não são totalmente eficazes contra coronavírus que tenham sofrido mutações no organismo dos visons, concluiu uma equipa do Instituto Leibniz para a Investigação em Primatas. Além disso, estes vírus mutados mantém a capacidade de infetar células humanas, escrevem os autores num artigo publicado na revista científica Cell Reports.

“Os nossos resultados mostram que um dos dois anticorpos de um cocktail de anticorpos usado no tratamento da Covid-19 não é capaz de inibir, de forma eficiente, a variante do vírus com a mutação Y453F. Além disso, o nosso estudo demonstra que a mutação Y453F reduz a capacidade de os anticorpos produzidos por doentes com Covid-19 [plasma convalescente] inibirem o vírus“, explica Markus Hoffmann, primeiro autor do estudo, em comunicado de imprensa.

Isto significa que as pessoas que foram infetadas com o SARS-CoV-2 podem ter uma proteção reduzida contra as variantes do vírus vindas do vison”, acrescenta Markus Hoffmann.

Desde muito cedo na pandemia de Covid-19 que se sabe que os humanos podem transmitir o SARS-CoV-2 aos visons e que estes podem transmitir o vírus aos humanos. Mais, o vírus pode sofrer mutações quando está no organismo do vison, essas variantes serem transmitidas e infetarem humanos e os humanos contagiarem-se entre si.

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Esta transmissão entre os humanos e os visons — e, possivelmente, outros mamíferos — pode criar uma reserva de SARS-CoV-2 nos animais, que podem continua a infetar os humanos, com a agravante de que os vírus podem sofrer mutações capazes de se escapar aos anticorpos humanos, sejam eles resultado de uma infeção natural ou até de uma vacina, receiam os autores.

Covid-19. Mutação do vírus encontrada em visons foi detetada em 214 pessoas

Os investigadores concentraram-se na mutação Y453F do gene que contém o código para a proteína spike, especificamente para a região onde se ligam os anticorpos neutralizantes (aqueles capazes de inibir a ação do vírus), e verificaram que os anticorpos tinham menos capacidade para controlar o vírus nos ensaios feitos em laboratório.

A mesma mutação também já tinha sido observada em furões e numa pessoa que esteve infetada com Covid-19 durante muito tempo.