O presidente da FIFA, Gianni Infantino, reagiu esta terça-feira ao anúncio da criação de uma superliga internacional com alguns dos maiores clubes da Europa. “Deixem-me ser completamente claro. A FIFA está construída com os verdadeiros valores do desporto como pilares. A FIFA está claramente contra esta Superliga. A UEFA e o futebol europeu têm todo o meu apoio”, referiu, citado pelo jornal El Español.

Gianni Infantino falava esta terça-feira num Congresso anual da UEFA e foi contundente nas críticas à criação da Superliga. E deixou um aviso: os clubes que decidirem participar nesta nova competição terão de “viver com as consequências” da decisão. O presidente da FIFA defendeu que “o futebol tem de estar unido” disse que apoia “o modelo” da UEFA para as competições, que tem de ser “protegido”.

Eles [os 12 clubes fundadores da Superliga europeia] são responsáveis pelas suas escolhas. Se decidirem seguir o seu próprio caminho terão de viver com as consequências das suas escolhas. Isto significa, concretamente, que ou estás dentro ou estás fora. Não se pode estar metade dentro e metade fora”, apontou ainda.

As “consequências” mais gravosas que têm sido discutidas no interior da UEFA passam mesmo pela expulsão das equipas que participarem na Superliga da Liga dos Campeões — começando já pelos clubes que estão atualmente em prova nesta edição da prova, que está atualmente nas meias-finais — e da Liga Europa. Além disso, discute-se ainda uma pena que poderia passar pela expulsão dos jogadores que participarem nestas provas das competições de Seleções organizadas pela FIFA, como o Mundial de Futebol, e UEFA, como o Europeu de Futebol, ambas disputadas a cada quatro anos.

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O presidente da FIFA referiu ainda que é preciso “respeitar as organizações, as ligas [nacionais], a UEFA, a FIFA e a história” e acrescentou: “O futebol é esperança. Entendo que a situação é complicada devido à pandemia, mas devemos estar juntos para a superar”.

Gianni Infantino reiterou: “Não há nenhuma dúvida de que a FIFA não aprova [a Superliga]. A FIFA está aqui hoje, e eu estou aqui hoje enquanto presidente da FIFA, para dar todo o apoio ao futebol europeu, à UEFA, às 55 associações que integram a UEFA e a FIFA, aos campeonatos, clubes, jogadores e aos fãs. Na FIFA só podemos estar estar veementemente contra a criação de uma superliga que é uma loja fechada, que é um corte e uma fuga das instituições atuais, das ligas, das associações, da UEFA e da FIFA”.

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O presidente da FIFA quis vincar que quer a associação a que preside quer a UEFA são “organizações democráticas e abertas” em que “toda a gente pode falar e fazer propostas que possam ser tidas em conta” mas quis sublinhar que não abdicará de exigir “respeito pelas instituições, ligas nacionais,  associações, pela história e pela paixão de muitas pessoas por todo o mundo”.

O acordo entre 12 clubes para a criação de uma Superliga internacional de clubes, uma competição distinta quer da Liga dos Campeões quer das ligas nacionais que os clubes disputam nos seus países, foi avançado nos últimos dias e foi recebido com fortes críticas por parte de grupos associativos de fãs de futebol e de dirigentes dos clubes que não a integram.

Entre os clubes que acordaram participar numa nova competição de futebol milionária, cuja maioria de participantes está escolhida à partida — não dependendo de resultados desportivos para se apurarem —, estão seis clubes de peso da Premier League inglesa (Liverpool, Manchester City, Manchester United, Arsenal, Chelsea e Tottenham), os três clubes espanhóis mais dominadores nos últimos anos (Barcelona, Real Madrid e Atlético Madrid) e três históricos clubes de Itália (Juventus, AC Milan e Inter de Milão).

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A ideia era a Superliga ter 20 equipas. Aos 12 fundadores deveriam juntar-se outras três equipas por convite e cinco equipas numa lógica rotativa. Equipas alemãs de peso como o Bayern de Munique e o Borussia Dortmund recusaram participaram e em França também o Paris Saint-Germain se opôs à ideia. Também o FC Porto revelou, através do seu presidente Pinto da Costa, ter tido contactos informais mas ter discordado à partida dos moldes da competição. Em Portugal, Sporting e Benfica também criticaram a criação da prova.

A Superliga europeia teria o condão de por um lado fazer nascer uma competição de futebol internacional com um maior número de jogos entre as grandes equipas europeias — os “colossos” europeus teriam todos de se defrontar, ao contrário do que impõem os atuais moldes competitivos da Liga dos Campeões — mas faria também alargar o fosso que separa atualmente os clubes mais poderosos e com maiores orçamentos dos clubes de menos dimensão dos países europeus.

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Em Portugal, o primeiro-ministro António Costa já criticou veementemente a criação desta Superliga de futebol. “A proposta de uma competição de futebol no espaço Europeu organizada fora das instituições representativas do setor, nomeadamente as Ligas, as Federações e a UEFA, tem de ser recusada sem nenhuma hesitação. Os princípios da solidariedade, da valorização do resultado desportivo e do mérito não podem estar à venda”, apontou o PM, em mensagens publicadas na sua conta oficial na rede social Twitter.

Também o ministro da Educação do Governo português, Tiago Brandão Rodrigues, criticou a criação da Superliga. Em declarações esta terça-feira, durante uma visita ao Colégio Moderno, disse aos jornalistas: “O Governo português acompanha as autoridades nacionais do futebol — a Federação Portuguesa de Futebol, a Liga de Portugal — e acompanha também as autoridades europeias de futebol na recusa completa dessa iniciativa, de um grupo elitista de clubes que acaba por lançar uma nova competição que necessariamente não está baseada na meritocracia, não está baseada nos princípios elementares do desporto e vem pôr em causa a função social do futebol e do desporto por diversificação total relativamente aos princípios básicos da atividade desportivo.

Acompanhamos as nossas autoridades desportivas nacionais e também a UEFA e a FIFA na recusa liminar dessa competição”, apontou o ministro.

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Já esta segunda-feira o governante criticara a competição, em declarações enviadas à Agência Lusa, referindo que o executivo “partilha a visão das autoridades nacionais e europeias de futebol, não sendo favorável à criação de uma competição desportiva a nível europeu que não privilegia a inclusão, a solidariedade e o mérito desportivo, colocando os interesses de uma pequena parte à frente do bem comum. Este é um desporto com milhões e milhões de adeptos em todo o continente e com uma importante função social, que deve ser preservada”.

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