Florentino Pérez não costuma dar entrevistas, não gosta propriamente de dar entrevistas e nem sequer se parece dar muito bem quando começar a dar mais entrevistas do que gostaria – e basta recordar os primeiros meses da época de 2018/19, sem Zidane nem Ronaldo e com uma aposta de risco em Julen Lopetegui que acabou por trazer mais prejuízos do que benefícios, onde quanto mais falava, pior ficava. Também por isso, a figura que cada vez de forma assumida é apontado como o grande cérebro da Superliga Europeia (contando também com Andrea Agnelli, presidente da Juventus e líder demissionário da Associação de Ligas Europeias, como uma espécie de agente infiltrado dentro da organização da UEFA) surgia como a voz que faltava ouvir no verdadeiro terramoto que abalou o futebol europeu desde que a nova competição foi apresentada por 12 clubes de Inglaterra, Espanha e Itália. E não demorou a aparecer em termos públicos, no programa “El Chiringuito de Jugones”.

“Ninguém montou nada. Aquilo que aconteceu é que os clubes importantes de Inglaterra, Itália e Espanha têm de dar uma solução a uma situação muito má que o futebol está a atravessar. Perdemos cinco mil milhões, é muito má. Nós [Real Madrid] no ano passado tínhamos uma valor de receitas de 800 milhões e terminámos em 700, este ano em vez de 900 milhões vamos ver se conseguimos chegar aos 600. Em duas temporadas, foram 400 milhões só no Real Madrid. Estamos a passar uma situação muito má. Quando não tens mais receitas a não ser os direitos televisivos, a solução é fazer jogos o mais atrativos possível para todos os fãs no mundo com todos os grandes clubes e chegámos à conclusão que se em vez da Liga dos Campeões fizéssemos uma Superliga Europeia seríamos capazes de reparar o que já perdemos”, começou por dizer o líder dos merengues.

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“A UEFA é um monopólio, deveria ser mais transparente. Nós queremos salvar o futebol, a sério. Entrei em 2000 para salvar o Real Madrid de uma situação muito má, com uma avaliação de 145 milhões de euros. Sem interesse económico pessoal. Apliquei um modelo que funcionou mas os modelos têm de ser renovados. A UEFA estava a trabalhar num outro formato, aquele que foi apresentado hoje, que com todo o respeito… Primeiro, não consigo entendê-lo, não há quem consiga entender. Não produz receitas para salvar o futebol. Digo o futebol e digo salvar a todos no futebol. O Real Madrid não é meu, é dos sócios. Queremos salvar o futebol para viver com tranquilidade, sem agonias. A situação é muito dramática”, prosseguiu Florentino Pérez.

“O futebol tem que evoluir, tal como as empresas, as pessoas e as mentalidades. As redes sociais mudaram a forma como se comportam e o futebol tem que mudar adaptar-se aos tempos em que vivemos. O futebol estava a perder o interesse e isso vê-se pelo público, que está a diminuir, tal como os direitos de transmissão. Algo tinha que ser feito. Estamos todos arruinados, o futebol é global e estes 12 clubes e mais alguns têm adeptos em todo o mundo. A televisão tem que mudar para que possamos adaptar-nos. As pessoas mais jovens já não se interessam por futebol. Porquê? Porque há muitos jogos de má qualidade e eles não se interessam, têm outras plataformas para se distrair”, apontou também o líder do Real Madrid, recordando ainda a figura de Santiago Bernabéu, o maior e mais emblemático presidente da história do clube da capital espanhola.

Sempre que há uma mudança há alguém que se opõe. Aconteceu a Bernabéu, por exemplo, mas a história do futebol mudou. O que há de tão atraente? Que joguemos entre os grandes, que exista competitividade, que sejam gerados mais recursos. Ricos? Eu? Não somos donos do Real Madrid, somos um clube de futebol e fazemos isso para salvar o futebol porque este é um momento crítico”.

“Vamos falar com a UEFA e a FIFA, não percebo por que têm de ficar bravos. A UEFA trabalhou noutro formato que, em primeiro lugar, não entendi e que depois não dá os rendimentos necessários para salvar o futebol. Quando digo salvar o futebol é para salvar todos. O que nós, pelo que herdamos no Bernábéu, queremos é salvar o futebol para que pelo menos nos próximos 20 anos ele possa viver em paz. A situação é muito dramática. Entendam que a vida mudou, já não é a mesma que era há 10 anos. Estão a chegar novas gerações, temos de dar ao futebol uma resposta a estas pessoas, senão… Se continuarmos com a Champions o interesse é cada vez menor e acaba. E o novo formato, que começa em 2024, é um absurdo”, voltou a reforçar.

Por fim, Florentino Pérez abordou ainda as ameaças a clubes e jogadores da Superliga Europeia. “Estão a ameaçar os jogadores mas eles podem estar tranquilos porque essas ameaças não se vão concretizar. Quem dirige os monopólios, a UEFA, tem que ser transparente. A UEFA não tem uma boa imagem, não quero falar de coisas que aconteceram na UEFA, mas tem de haver um diálogo que não seja ameaçador. Eles apresentaram um formato que ninguém entende e dizem que vão começar em 2024 mas em 2024 estaremos mortos. Há clubes que perderam centenas de milhões. Há que ser transparente, a UEFA não foi transparente. Os monopólios acabaram e todos nós dizemos que o futebol está prestes a ser arruinado. Eles não nos vão expulsar da Liga dos Campeões, estou completamente seguro. Nem da liga. Ninguém vai expulsar-nos de lado nenhum”, garantiu.