António Costa aproveitou a cerimónia de inauguração do novo Data Center, em Sines — um investimento de americanos e ingleses que pode atingir 3,5 mil milhões de euros — para mandar um recado a Bruxelas sobre o Plano de Recuperação e Resiliência. Depois de destacar a importância da cidade para o desenvolvimento económico do país, o primeiro-ministro deixou claro que foi “difícil” a negociação para integrar a ligação rodoviária do porto de águas profundas à A2 — vista como fundamental pelo Governo.
O primeiro-ministro sublinhou que Sines “é um enorme ativo” e que, por isso, a interconexão com todo o continente europeu é um elemento “chave”. “Temos em obra a ligação do corredor internacional ferroviário que vai ligar Sines à fronteira de Espanha e com toda a Europa, e, nesta difícil negociação com a Comissão Europeia sobre os missing links, que importava financiar no Plano de Recuperação e Resiliência, conseguimos defender e ver aprovada a manutenção desta ligação de Sines à A2”, através do IP8 (A26), “de forma a que essa ligação seja crucial para valorizar o porto de Sines”.
Em fevereiro, dias antes de colocar o PRR para discussão pública, o primeiro-ministro garantiu que havia “um grande alinhamento” entre as recomendações da Comissão Europeia e o programa do Governo, e que, por isso, não antevia “particulares dificuldades no processo de negociação” com Bruxelas.
Depois, no entanto, vieram a lume as dúvidas da Comissão Europeia sobre a inclusão de investimentos em vias rodoviárias e no projeto da barragem do Crato. Ao Observador, o Ministério do Planeamento reconheceu em março que, para a Comissão Europeia, não estavam “suficientemente fundamentados enquanto projetos estruturais ligados às reformas” e não estavam “suficientemente esclarecidos os impactes ambientais”.
Quer a barragem, quer a esmagadora maioria das estradas em questão acabaram por se aguentar no Plano de Recuperação e Resiliência, embora com ajustes. No primeiro caso, em vez de 171 milhões de euros, o documento prevê agora 120 milhões. E as pequenas estradas que servem para ligar zonas com atividade económica às principais redes rodoviárias (os tais missing links), em vez de serem 16 passaram a 15 projetos, que deverão custar 313 milhões de euros (em vez de 362,9 milhões).
O projeto “IP8(A26). Aumento de Capacidade na ligação entre Sines e a A2” é um desses que estaria em risco, assume o primeiro-ministro.
Americanos e ingleses prometem investir 3,5 mil milhões de euros e criar 1.200 empregos
As declarações de António Costa foram feitas em Sines, na inauguração do campus “Hyperscaler Data Centre”, um investimento da Start Campus (empresa detida pelo fundo norte-americano Davidson Kempner Capital Management LP) e da Pioneer Point Partners num total de 3,5 mil milhões de euros. Um projeto que os responsáveis prometem gerar até “1.200 postos de trabalho diretos altamente qualificados”.
À rádio Observador, Sam Abboud, sócio e um dos fundadores da Pioneer Point Partners, disse que os responsáveis planeiam que este seja um dos “maiores centro de dados verdes na Europa”. E referiu que, além dos 1.200 postos de trabalho a serem criados diretamente, haverá ainda “oito mil empregos até 2025” de forma indireta. “Vai ajudar a transformar a área em termos de economia digital e transição energética”, continuou.
O início da construção está prevista para 2022, envolvendo 900 pessoas numa primeira fase e até 2.700 no total, o Sines 4.0 deverá inaugurar no final de 2023 o primeiro dos cinco edifícios projetados.
Consórcio anglo-americano investe 3,5 mil milhões de euros para criar centro de dados em Sines
Em relação ao fundo de investimento americano, não é de hoje que tem uma ligação a Portugal, uma vez que é um dos principais compradores das carteiras de crédito malparado do Novo Banco (o projeto “Nata II”, em 2019, e o portfólio Wilkinson, em março deste ano), que tanta polémica têm gerado.
As vendas recentes do Novo Banco, muitas delas a preço muito inferior ao valor de balanço, estão a ser alvo de uma comissão parlamentar de inquérito. As perdas com vários destes ativos estão cobertas por garantias públicas — um mecanismo de capital contingente que já obrigou o Estado a injetar mais de 3 mil milhões de euros no banco.