Nos últimos dias, mais do que a luta contra a Covid-19 que trava diariamente no hospital onde trabalha na Índia, há algo que não sai da memória da médica Chahar Verma: o olhar dos doentes internados a verem ao seu lado pacientes a morrer, por não haver oxigénio no hospital, aterrorizados com a hipótese de os próximos serem eles.
“Eles ficavam ali deitados, a ver o o paciente ofegante, incapaz de respirar. E sabiam que não estávamos a dar oxigénio porque não havia. A expressão no olhar deles era de puro terror. Eles sabiam que podiam ser os próximos”, descreveu a jovem médica, de 26 anos, ao The Guardian. É que, explicou, esta nova estirpe do vírus é tão imprevisível que de num momento um paciente jovem está bem, e no seguinte sofre uma quebra abrupta de oxigénio e precisam de auxílio para respirar.
Nos últimos dias, em que a Índia tem estado no epicentro das notícias sobre a Covid-19, com recordes diários de casos positivos e de mortes e falta de meios para socorrer tantos doentes, Chahat Verma tem visto no hospital Ganga Ram famílias inteiras infetadas, o medo pela falta de tratamento e, sobretudo, a morte. Dias houve em que assistiu à morte de seis pacientes em 24 horas e por ter muitos colegas infetados chegou a tratar de cerca de 30 doentes sozinha.
“Foi muito angustiante. Eu comecei a vê-los ficar sonolentos, sem reagir, enquanto o coração e o cérebro sentiam o efeito da falta de oxigénio. Cada órgão do corpo precisa de oxigénio. É terrível quando o corpo não está a receber o que precisa ”, descreveu.
Apesar da ajuda internacional, os número na Índia estão longe de começar a baixar. Este domingo registou o maior número de mortes num só dia (3.689) e 392.488 novos casos. Segundo o Ministério da Saúde indiano, o país conta com 1,3 mil milhões de habitantes, e tem atualmente 3,3 milhões de casos ativos.
Mas, lembra a CNN, não é o único país do mundo a braços com um surto que não está a conseguir dominar. Enquanto países como Portugal começam a desconfinar, outros países do mundo enfrentam um verdadeiro pesadelo no combate à pandemia. O próprio diretor geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, deu esta semana conta disso.
“Para por em perspetiva, houve tantos casos no mundo na última semana como nos primeiros cinco meses de pandemia”, disse.
E se olharmos para o globo percebemos como. Além da Índia, a Turquia entrou no seu primeiro confinamento nacional esta quinta-feira, ao registar a maior taxa de infeções da Europa. O Irão registou o maior número de mortes por Covid-19 de sempre na segunda-feira, com muitas cidades forçadas a um confinamento parcial e com o Presidente Hassan Rouhani a confirmar que o país está a a enfrentar uma quarta onda de casos.
Na América do Sul o cenário não é melhor. O Brasil, com mais de 14,5 milhões de casos confirmados e perto de 400 mil mortes continua a ter as maiores taxas de infeção do mundo.