A Mutualista Montepio baixou da fasquia dos 600 mil associados num ano de 2020 em que, tal como o Observador já tinha noticiado, fechou com um resultado negativo: 17,9 milhões de euros de prejuízo, mostram as contas discretamente divulgadas pela instituição este fim de semana. A mutualista aumentou, também, o recurso aos chamados “ativos por impostos diferidos”, uma almofada contabilística ao capital da instituição que voltou a valer reserva dos auditores.

De acordo com as contas, o número de associados fixou-se nos 598.438 no final de 2020, menos do que os 601.784 no fim de 2019 e os 612.607 no final de 2018, segundo as contas da mutualista. Porém, a chamada “margem associativa”, a diferença entre as entradas e saídas de capital dos associados, cresceu para quase 79 milhões de euros, melhor do que os 27 milhões do ano anterior e muito melhor do que a margem associativa negativa de -191 milhões de euros em 2018.

No entanto, os resultados do exercício voltaram a ser negativos – 17,862 milhões de euros, o que compara com os 408,8 milhões, também negativos, registados no ano anterior (quando o então novo auditor obrigou ao registo de imparidades, sobretudo no valor do Banco Montepio, que continua ainda assim a valer 1.500 milhões de euros nas contas da mutualista). O resultado operacional piorou: foi negativo em 35,7 milhões, quando em 2019 tinha sido negativo em 29,8 milhões.

Aumentou, também, o recurso contabilístico àquilo que mantém o balanço da instituição fora da falência técnica, os chamados ativos por impostos diferidos. “Em 2020, os ativos por impostos diferidos, no montante de 867,6 milhões de euros apresentam, face a 2019, um acréscimo de 34,3 milhões de euros (4,1%)”, diz a Montepio Geral Associação Mutualista (MGAM).

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Este aumento ocorreu apesar das reservas colocadas pelo auditor, a PwC, à forma como a instituição contabiliza estes ativos – um tema muito contencioso que levou a grande tensão nos últimos meses, tal como já tinha acontecido no fecho das contas de 2019, tal como o Observador noticiou na última quarta-feira. A gestão da mutualista reiterou a sua opinião de que a PwC não tem razão ao questionar a validade desses ativos – e encomendou uma “análise independente” que sustenta que .

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“Na Certificação Legal das Contas de 2019, o atual auditor externo do MGAM – PricewaterhouseCoopers & Associados, Lda. –, manifestou uma reserva por desacordo quanto à aplicação da norma internacional de contabilidade IAS 12 à especificidade da atividade do MGAM, no que se refere à avaliação da recuperabilidade dos Ativos por Impostos Diferidos”, confirmou a instituição, salientando que “esta posição é divergente da assumida pelos anteriores auditores, que certificaram as contas do MGAM até 2019 – KPMG & Associados, SA, bem como da BDO-Consulting, Lda, que analisou a recuperabilidade financeira dos Ativos por Impostos Diferidos, relacionados com as Provisões Matemáticas e com o Reporte de Prejuízos no final de 2019, e, com base nos dados históricos e nos dados previsionais do Plano do MGAM 2020 a 2028, ao qual efetuou um cenário de stress, concluiu pela respetiva recuperabilidade”.

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Devido a estas “divergências”, a mutualista disponibiliza nestas contas uma “análise e estudo de toda esta temática dos Impostos Diferidos Ativos, envolvendo um grupo de reputados especialistas externos, com apoio de elementos internos, que facultaram toda a informação necessária, decorrente do qual foi produzido o trabalho que se anexa ao presente relatório”.

Esse é um trabalho que leva a MGAM a reiterar “a interpretação e a metodologia que tem sido seguida, com a convicção de que a mesma é a mais correta, face à especificidade da sua atividade mutualista e no respeito pela aplicação dos princípios contabilísticos”.