Escassas horas depois da estrondosa vitória em Madrid, a comunidade autónoma espanhola em que o Partido Popular conseguiu duplicar o seu último resultado e ultrapassar toda a esquerda, o rosto do triunfo, Isabel Díaz Ayuso, já está a começar a trabalhar no novo mandato. E neste mandato admite incluir membros do Vox na equipa que vai governar a região de Madrid, mesmo que isto não faça parte de nenhum pacote negociado previamente para conseguir o apoio do Vox.
Numa ronda de entrevistas às rádios espanholas que concedeu na manhã desta quarta-feira, logo antes da primeira reunião do seu Executivo regional neste novo mandato, a líder reeleita em Madrid admitiu esta hipótese. “Terá um Governo monocromático?”, perguntou um dos jornalistas. E Ayuso respondeu: “Talvez não”, recordando a experiência do último ano e meio, em que incluiu membros do Ciudadanos — incluindo a titular da pasta da Cultura — na sua equipa. “Procurarei de novo os melhores, venham de onde vierem, com o critério claro de executar políticas sensatas. Se encontrar no Vox representantes que valham a pena, contarei com eles”.
Não é uma moeda de troca com o partido de extrema-direita, garante Ayuso, até porque na noite de terça-feira o próprio Vox apressou-se a garantir que vai apoiar a recondução da responsável do PP no cargo, sem mais demoras. Com o número de assentos conquistados pelo PP na assembleia regional (65, mais do dobro dos 30 de 2019), nem sequer seria preciso um voto a favor do Vox, bastando uma abstenção para que Ayuso tome posse em junho. “O que pedirei é a abstenção ou o apoio do Vox, o que considarem melhor para os seus interesses, e eu respeitarei”, cita o diário El Mundo.
No entanto, como relata a imprensa espanhola, o Vox — que conquistou apenas mais um deputado regional, mesmo com o desaparecimento do Ciudadanos (o partido de direita liberal perdeu os seus 26 assentos) — já fez questão de lembrar que é a “chave” e “necessário” para que este mandato se cumpra, uma vez que, como vieram rapidamente dizer o líder, Santiago Abascal, e a cabeça de lista por Madrid, Rocío Monasterio, a escolha do PP será entre o apoio do Vox via voto favorável ou abstenção ou o dos partidos de esquerda. Em Madrid, as políticas do Executivo ficarão, assim, condicionados pelo Vox mesmo que este não entre no Governo regional.
Nas suas primeiras entrevistas, Ayuso já fez questão de definir as prioridades principais da nova equipa que irá formar: desde logo, uma descida de impostos (a começar pelo IRPF, ou imposto sobre o rendimento das pessoas físicas, uma medida apoiada pelo Vox) e uma dimuição do tamanho do Executivo local, de 13 para 10 “departamentos”, ou ministérios regionais. Dos planos iniciais de Ayuso consta também uma desburocratização para atividade empresarial e a aprovação de um novo orçamento, já que o Executivo local tem governado com prorrogações das contas de 2019.
De resto, a líder da Comunidade Autónoma de Madrid diz-se consciente da grande transferência de votos que lhe entregou o terceiro melhor resultado do PP naquela região, pelo que considera importante “analisar” esses números e “perceber o que as pessoas estão a pedir”, para “compensar” este “entusiasmo partilhado”.
Desde logo, fica claro que insistirá no discurso que priorizou durante a campanha: o confronto direto com o Governo nacional, de Pedro Sánchez, a partir de Madrid. “Continuaremos a ser um contra peso e um contra poder que faz falta”, prometeu já esta quarta-feira. Objetivo: promover uma mudança de ciclo na política espanhola que comece por Madrid e “contagie” o resto do país, para que a direita regresse ao poder.