A noite foi de Isabel Diaz Ayuso. A presidente da Comunidade de Madrid — que em 2019, quando foi eleita, era uma desconhecida a nível nacional e hoje é uma figura política em ascensão em Espanha — garantiu a vitória da direita em Madrid e a sua recondução no cargo. Com quase 45% dos votos nas eleições para a Assembleia da Comunidade de Madrid, o Partido Popular não só vence, como mais do que dobra os seus deputados eleitos (de 30 para 65) e ainda consegue mais assentos parlamentares do que toda a esquerda junta (58).

“Hoje começa um novo capítulo na história de Espanha, porque vamos recuperar a convivência, a liberdade e a harmonia de que a Espanha precisa”, disse Ayuso no seu discurso de vitória proferido ao lado de Pablo Casado, líder do PP. “A liberdade voltou a triunfar em Madrid.”

Eleições em Madrid: os vencedores, os vencidos e o “nim”

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Casado, que fez a sua intervenção antes de Ayuso, deixou avisos à navegação de Pedro Sánchez, presidente do Governo espanhol e líder do PSOE: “Hoje, Madrid fez uma moção de censura ao sanchismo, aos seus pactos com os independentistas, aos seus pactos com o Podemos”, atirou o líder do PP, antenvendo mudanças futuras na política espanhola. “Hoje a liberdade ganhou em Madrid, mas amanhã ganhará em toda a Espanha.”

Ficando apenas a 4 votos da maioria absoluta (69 deputados), Ayuso canta ainda uma outra vitória: não precisa dos votos do Vox, mas apenas da sua abstenção, para garantir que se mantém no cargo. Isto, claro, se não obtivesse a confiança da câmara na primeira volta da investidura (quando precisa de maioria absoluta) e tivesse de ir a uma segunda votação, onde lhe bastaria os votos de maioria simples. Mas esse cenário já foi posto de parte pelo Vox, que garantiu que Ayuso será reconduzida sem mais demoras.

Rocío Monasterio, que viu o seu partido ganhar mais um deputado (com 9% dos votos, passa de 12 para 13 assentos) garantiu que facilitará a investidura da presidente da comunidade: “Demos tudo e este é o início de uma mudança de rumo”, disse, sublinhando que o Vox é “a chave”. A candidata do PP, sublinhou Monasterio, terá de escolher entre o Vox e uma abstenção do Vox. “O Vox é decisivo, os votos do Vox são necessários e os votos do Vox são necessários para estes dois anos”, concluiu a presidente do partido de extrema direita.

Já o Ciudadanos, partido de direita liberal com quem Ayuso formou uma coligação em 2019 com o apoio parlamentar do Vox, fica sem representação na câmara. Não tendo conseguido chegar sequer aos 4% de votos, perde todos os 26 assentos parlamentares ganhos nas últimas eleições. Apesar do mau resultado, Inés Arrimadas, líder do partido, promete continuar a lutar por Espanha.

“Muito obrigado aos mais de 130 mil madrilenos que confiaram no nosso projeto e votaram ao centro, num cenário de enorme polarização. Continuaremos a trabalhar juntos por uma Espanha sem lados e com um futuro para todos”, afirmou no Twitter, deixando um agradecimento especial a Edmundo Bal, candidato do Ciudadanos na capital espanhola.

E a esquerda? PSOE derrotado, Más Madrid líder da oposição, Iglesias fora de cena

À esquerda, a noite eleitoral não foi fácil de digerir e o primeiro a cair foi Pablo Iglesias. O Unidas Podemos até melhorou a sua representação parlamentar e, com cerca de 7% dos votos, passou de 7 para 10 deputados. Mas isso não bastou para travar a vitória da direita e levou o líder do partido a anunciar que vai abandonar todos os seus cargos e a vida política partidária.

“Os resultados, o sucesso eleitoral da direita trumpista representada por Ayuso e da extrema direita são uma tragédia”, disse. “Deixo todos os meus cargos, deixo a política”, continuou Iglesias. “Vimos um aumento e normalização sem precedentes dos discursos fascistas nos media e tenho a absoluta consciência de que me tornei o bode expiatório que mobiliza os efeitos mais sombrios e antidemocráticos.”

Pablo Iglesias abandona a política face à “tragédia” dos resultados. “Deixo todos os meus cargos, deixo a política”

Para o PSOE a noite também foi dura. Não só obteve os piores resultados dos últimos anos como deixou de ser a segunda força política em Madrid. Com quase 17% dos votos, cai de 37 deputados eleitos para 24. E 24 é o mesmo número de assentos parlamentares alcançado pelo Más Madrid, mas que consegue passar à frente do PSOE em número de votos (cerca de mais 4 mil).

“Tivemos resultados magníficos que, no entanto, não impedem a vitória do PP. Vamos liderar a oposição e a alternativa em Madrid”, escreveu no Twitter, Íñigo Errejón, líder do partido.

Já Ángel Gabilondo, o candidato do PSOE, não pode dizer o mesmo. “Obviamente que os resultados não são bons”, afirmou, reconhecendo a derrota nas autonómicas de Madrid. “Obviamente que não são o que esperávamos.”

O líder do PSOE pouco acrescentou e o que Pedro Sánchez tinha para dizer, disse em 140 caracteres no Twitter: “As urnas deram a Ayuso um grande resultado e, acima de tudo, uma grande responsabilidade. Parabéns.”

Deputados eleitos com 99,93% dos votos contados:

  • PP (44,73%): 1.620.213 de votos e 65 assentos (tinha 30)
  • Más Madrid (16,97%): 614.660 votos e 24 assentos (tinha 20)
  • PSOE (16,85%): 610.190 votos e 24 assentos (tinha 37)
  • Vox (9,13%): 330.660 votos e 13 assentos (tinha 12)
  • Unidas Podemos (7,21%): 261.010 votos e 10 assentos (tinha 7)
  • Ciudadanos (3,57%) tem 129.216 votos e fica sem representação (tinha 26)