Vasco Gonçalves, primeiro-ministro durante o Processo Revolucionário Em Curso (PREC) pós a revoluação do 25 de Abril, vai ser homenageado, no seu centenário, com uma sessão comemorativa na segunda-feira, em Lisboa, e uma brochura com depoimentos de Fidel Castro e Hugo Chavez.
As comemorações do nascimento de Vasco Gonçalves, em 3 de Maio de 1921, são organizadas pela Associação Conquistas da Revolução (ACR), criada há dez anos para “preservar, divulgar e promover o apoio dos cidadãos aos valores e ideais da Revolução”, o “momento mais luminoso da História de Portugal”.
No domingo, na Voz do Operário, em Lisboa, haverá uma sessão comemorativa, que incluirá um espetáculo musical, e que conta com as intervenções de Manuel Begonha, da assembleia geral da associação, e Batista Alves, presidente da direção da ACR, sobre Vasco Gonçalves.
Ao nível editorial, vai ser lançada uma fotobiografia do ex-primeiro-ministro, feita em colaboração com a família, e a brochura “Quem foi Vasco Gonçalves”, editado pela associação e que inclui textos do líder cubano Fidel Castro (1926-2016) e do ex-presidente da Venezuela Hugo Chavez (1954-2013).
Com textos do escritor e jornalista Miguel Urbano Rodrigues (1925-2017) e Manuel Begonha, na brochura pode ler-se o texto de condolências enviado por Fidel à família do general, após a sua morte em 2005, e em que Vasco Gonçalves é recordado pela sua “luta incansável pelas causas justas da Humanidade” que vão “perdurar para sempre” na memória dos “revolucionários”.
O texto de Hugo Chavez, presidente da Venezuela que morreu em 2013, é de 25 de abril de 2004, e nele lê-se que a “Revolução de Abril foi a mais profunda e a mais popular das revoluções portuguesas” e que inspirou, foi “mãe”, da “revolução bolivariana”.
Da comissão de honra das comemorações, que tem como lema “a moral e a política vão de par e não se podem dissociar”, fazem parte militares e civis que estiveram em lados diferentes da Revolução do Cravos. A lista é grande e inclui Dinis de Almeida, Duran Clemente ou Mário Tomé, mas também militares do lado do “grupo dos nove”, como Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril. Há ainda um grupo de personalidades de outras áreas como o arquiteto Siza Vieira, o historiador António Borges Coelho, o arqueólogo Cláudio Torres, dirigentes políticos como Carlos Carvalhas e Jerónimo de Sousa, do PCP, Heloísa Apolónia (PEV), a atriz Maria do Céu Guerra, Manuela Cruzeiro e Pilar del Rio.
Em declarações à Lusa, Manuel Begonha, dirigente da ACR e antigo membro da 5.ª Divisão do EMGFA, onde coordenou as campanhas de dinamização cultural, afirmou que Vasco Gonçalves é “uma figura fundamental do 25 de Abril” e seria “imperdoável” deixar passar a data do centenário em branco. Como nem o Governo nem o Presidente da República tomaram qualquer iniciativa, “teve que ser a associação a assumir esse papel, porque era imperdoável não fazer qualquer tipo de comemoração para o homem que foi tão importante”, disse.
O antigo primeiro-ministro Vasco Gonçalves, que morreu em 2005 aos 83 anos, foi uma das figuras ligadas ao período revolucionário mais controverso e que mais paixões e ódios suscitou.
Foi chefe dos II, III, IV e V Governos Provisórios, entre 18 de julho de 1974 e 10 de setembro de 1975 e o seu nome era aclamado nas manifestações e comícios durante o PREC (Período Revolucionário em Curso) em slogans como “força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”, de uma canção interpretada por Maria do Amparo e Carlos Alberto Moniz.
O período em que chefiou o governo ficou conhecido por “gonçalvismo” e ficou marcado principalmente pelo combate aos monopólios e aos latifúndios. A nacionalização da banca e dos seguros, a par da aceleração da Reforma Agrária, foram decisões emblemáticas do chamado “gonçalvismo”, ainda hoje sinónimo de extremismo de esquerda para as forças de direita.