Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins (dona do Pingo Doce), diz que esteve “quatro anos à espera da licença para abrir uma fábrica de leite”. Esperou porque é português, tem “o coração em Portugal” e, por isso, tem essa “paciência. Mas e quem não a tem?“. Isso é um problema, mas há muitos mais – um deles é “uma carga fiscal que nos vai matando aos poucos” e outro é políticos que, na sua opinião, gostam de “nivelar por baixo” (uma farpa ao ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues).
Acompanhado por Cláudia Azevedo, presidente da Sonae (dona das cadeias Continente, entre outras), o empresário confessou que o “entristece o país não crescer desde 2001”. As declarações surgiram durante uma conferência organizada pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), num debate moderado pelo diretor-geral, Gonçalo Lobo Xavier.
“Portugal é um país que tem tendência para empobrecer e um país assim tem muita dificuldade em requalificar a sua mão de obra”, que é a única forma de reformar a economia portuguesa. “Vivemos num mundo altamente competitivo”, diz Pedro Soares dos Santos, lamentando não ver os políticos a fazerem mais “para que o país atraia mais investimento” – outros países fazem isso, recebem o investimento estrangeiro de braços abertos, sublinha.
“Eu não estou a ver que sejam precisas muitas mais auto-estradas, aeroportos em Coimbra, como também já ouvi falar, eu sei que essas grandes obras ajudam os políticos a ganhar eleições – e os políticos têm um horizonte a quatro anos”, diz o empresário, lembrando que o país precisa de um horizonte mais longo e as próprias empresas, nomeadamente de origem familiar, têm horizontes a 10 ou 20 anos.
Neste país, com o discurso atual que eu vejo, ninguém quer tirar-nos da pobreza. Como se viu ainda agora, quando houve a suspensão das aulas [presenciais], vimos um ministro da Educação a nivelar tudo por baixo, e não por cima”, critica Pedro Soares dos Santos.
Embora mais contida nas palavras, Cláudia Azevedo acompanhou as críticas do seu concorrente, lamentando que no plano de recuperação e resiliência (PRR) “falta uma ambição para o país“.
“Este PRR, do que eu vi, é uma lista de despesas. Espero que haja um pouco mais do que vimos até agora”, atira a presidente da Sonae, salientando que, por exemplo, Espanha tem no seu PRR 4 mil milhões para novas redes de telecomunicações e “nós temos zero”.
“Nós não precisamos de mais betão, precisamos de mais cabeça, de investir nas pessoas – porque somos bons, temos boas universidades – só isso vai colocar o país a crescer”, afirmou a empresária, filha do falecido empresário Belmiro Azevedo.