Marcelo Rebelo de Sousa vai visitar a Guiné-Bissau entre segunda e terça-feira, 31 anos e seis meses depois de Mário Soares, o último Presidente português a fazer uma visita oficial a este país, em 1989.

António Ramalho Eanes esteve, em 1978, na Guiné-Bissau, para uma Cimeira Luso-Angolana, e voltou em 1979, em visita de Estado, e em 1982, em visita oficial. Soares, depois da visita de 1989, regressou a Bissau para a posse de ‘Nino’ Vieira como Presidente guineense eleito nas primeiras eleições multipartidárias, em 1994. Jorge Sampaio não fez nenhuma deslocação como chefe de Estado a este país lusófono, enquanto Aníbal Cavaco Silva esteve em Bissau para participar numa cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 2006.

A Guiné-Bissau foi a primeira colónia portuguesa em África a tornar-se independente. A independência foi proclamada unilateralmente em 24 de setembro de 1973, decorrida uma década de luta armada, de imediato reconhecida pelas Nações Unidas (6 de outubro de 1973) e, por Portugal, um ano mais tarde, a seguir ao 25 de Abril, em 10 de setembro de 1974.

O general Ramalho Eanes, primeiro Presidente da República eleito por sufrágio universal após o 25 de Abril de 1974, tomou posse em julho de 1976, no rescaldo da guerra colonial e do processo de descolonização. Deslocou-se à Guiné-Bissau em junho de 1978, para uma Cimeira Luso-Angolana e, em fevereiro de 1979, voltou, em visita de Estado.

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“Volto a pisar o chão de Bissau num ato histórico que transcende a minha pessoa. A visita que hoje início consagra o entendimento fraterno e exemplar de dois Estados soberanos que mutuamente se respeitam. Mas confirma sobretudo o reencontro de dois povos cuja amizade e compreensão a degenerescência colonial foi incapaz de destruir”, afirmou à chegada. Eanes, que como militar tinha prestado serviço na Guiné-Bissau, entre 1966 e 1971, onde estabeleceu relações com Spínola e Otelo, apontou como principal objetivo desta sua visita “o de sublinhar o caráter exemplar das relações entre dois países que sofreram juntamente, embora de modos diferentes, os efeitos da degenerescência colonial”.

“O rápido estabelecimento de laços de estreita amizade entre a Guiné-Bissau e Portugal só pode ter surpreendido os que persistiam em ignorar que a cooperação fraterna – e não a guerra que, como já disse, foi um acidente histórico – é que verdadeiramente exprime os sentimentos de um povo em relação ao outro”, considerou, já no final da visita, a convite do primeiro Presidente da Guiné-Bissau independente, Luís Cabral, que Eanes já tinha recebido em Lisboa, em janeiro de 1978.

Ramalho Eanes visitaria ainda a Guiné-Bissau em dezembro de 1982 e, em junho de 1984, recebeu em Lisboa o Presidente guineense João Bernardo ‘Nino’ Vieira, que esteve no poder em regime de partido único até 1994.

Mário Soares, Presidente da República entre 1986 e 1996, fez uma visita oficial à Guiné-Bissau em novembro de 1989. “Esta é a primeira visita que efetuo à Guiné. Com ela fecho, simbolicamente, o ciclo que se iniciou em 1974, logo após a Revolução dos Cravos, quando, em nome de Portugal, como ministro dos Negócios Estrangeiros, iniciei o processo de descolonização, estabelecendo os primeiros contactos oficiais com o Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC), e negociando em Dakar, Londres e Argel o cessar-fogo e a independência”, referiu Mário Soares, na altura.

Num discurso durante um banquete oferecido por ‘Nino’ Vieira, Soares acrescentou: “É, assim, para mim, particularmente emocionante pisar neste momento a vossa terra, cujo indómito espírito de independência sempre admirei e respeitei, único país africano de expressão oficial portuguesa que ainda não tivera a honra de visitar, e poder transmitir a todo o povo guineense, em nome de Portugal, uma mensagem sincera de fraterna amizade, apreço e compreensão”.

“Têm sido frequentes, e muito frutuosos, os contactos que, a todos os níveis, têm sido estabelecidos entre os nossos dois países nos últimos anos. Exorcizados os fantasmas criados pela guerra colonial, saradas as feridas que esta provocou em ambos os povos, conseguimos substituir um clima de desconfiança e de mútuos ressentimentos por uma atmosfera de são convívio e de estreita cooperação, de que muito têm beneficiado os nossos dois países”, defendeu o então Presidente português.

Mário Soares regressou à Guiné-Bissau em setembro de 1994 para assistir à cerimónia de posse de ‘Nino’ Vieira como Presidente da República eleito em agosto desse ano na segunda volta das presidenciais, que disputou com Kumba Ialá. Recebido pelo Presidente guineense eleito à chegada, Soares congratulou-se com o processo eleitoral “perfeitamente livre e sério” na Guiné-Bissau e observou: “Quanto mais disputadas são as vitórias, melhores e mais saborosas elas são, e eu sei alguma coisa a esse respeito”.

O Presidente guineense ‘Nino’ Vieira realizou depois uma visita de Estado a Portugal em julho de 1996, no primeiro ano de mandato de Jorge Sampaio como chefe de Estado. Sampaio recebeu o Presidente guineense interino Henrique Rosa, em novembro de 2003, mas até ao final do seu mandato, em 2006, não se deslocou à Guiné-Bissau.

Cavaco Silva, Presidente da República entre 2006 e 2016, recebeu em audiências ao longo dos seus dois mandatos os Presidente guineenses ‘Nino’ Vieira, o interior Raimundo Pereira, e José Mário Vaz, e em visita oficial Malam Bacai Sanhá, em fevereiro de 2010. Como chefe de Estado português, Cavaco Silva não fez nenhuma visita oficial à Guiné-Bissau, onde esteve, contudo, para participar na 6.ª Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Bissau, em julho de 2006.

Marcelo Rebelo de Sousa, que assumiu a chefia do Estado em 09 de março de 2016, visitou no seu primeiro mandato a maior parte dos países lusófonos: Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Brasil. Em 08 de outubro do ano passado, recebeu no Palácio de Belém, em Lisboa, o Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, que se deslocou a Portugal em visita oficial. Perante Sissoco Embaló, o chefe de Estado português considerou que “há um pano de fundo de fraternidade” nas relações bilaterais e “um mundo de iniciativas a desenvolver” na cooperação nos setores da educação e cultura e também no plano económico.

Marcelo Rebelo de Sousa saudou a comunidade guineense em Portugal, e destacou o contributo dos portugueses residentes na Guiné-Bissau para o desenvolvimento desse “país irmão”.

Reeleito Presidente da República em 24 de janeiro deste ano, com 60,67% dos votos expressos, Marcelo Rebelo de Sousa tomou posse para um segundo mandato perante a Assembleia da República em 09 de março passado e três dias depois visitou o Vaticano e Madrid.