O chamado “turismo de vacinas” está em expansão: da Rússia aos Estados Unidos, são muitas as agências de viagens que preparam pacotes de férias que incluem a vacinação contra a Covid-19: só no México, por exemplo, há cinquenta dessas empresas a oferecer este tipo de férias para pessoas com rendimentos mais altos.
Do lado de cá do Atlântico, a viagem pode incluir uma passagem pela Turquia, antes de poder apanhar a Sputnik, conta o El Español: uma empresa norueguesa oferece mesmo duas opções para viajar, a partir de junho, do páis presidido por Erdogan para o liderado por Vladimir Putin.
A primeira hipótese conta com duas viagens de quatro dias cada — já que a Sputnik, tal como a maioria das vacinas atualmente em uso em todo o mundo, necessita de duas doses para se ficar imune contra a doença. Esta opção custa 1.049 euros, no caso de se escolher um hotel de três estrelas, ou 1.199 se for um de quatro estrelas. Este preço inclui os voos de ida e volta para a cidade turca de Trabzon, os transportes para o centro de vacinação na cidade costeira de Sóchi, Rússia, e ainda uma consulta médica numa clínica privada. Fazem ainda parte deste valor as três noites no hotel, um tradutor e um guia turístico.
É no segundo dia desta “escapadinha” que os passageiros recebem a vacina. Para chegarem à cidade na costa do Mar Negro, viajam num barco de alta velocidade. O roteiro da agência World Visitor dá ainda tempo para passear em Sóchi no dia seguinte, antes de voltar para a Turquia, e no último dia apanha-se o voo de regresso a casa.
Mas existe ainda a segunda opção, para os que têm mais tempo e querem aliar a sua saúde a umas férias. A agência norueguesa disponibiliza um roteiro de 23 dias, a partir de 2.060 euros por pessoa, desta vez sem contar com os voos para a Turquia. A primeira dose seria recebida na mesma no segundo dia e no dia seguinte regressar-se-ia para a cidade costeira Trabzon, onde a ideia é ficar até ao penúltimo dia a viajar pelo país. Após ser dada a oportunidade de conhecer várias cidades turcas, viajar-se-ia para Sóchi para ser administrada a última dose, antes de voltar para a Turquia e, daí, para casa.
Rússia aprova versão light da vacina Sputnik V contra a Covid-19
A vacina desenvolvida pela Rússia ainda não está autorizada na União Europeia mas já foi credibilizada pela revista científica The Lancet.
Do México para os EUA para apanhar uma vacina
Também na América Latina, do México à Argentina, são vários os países em que cidadãos das classes média e alta estão a praticar o chamado “turismo de vacinas”.
Muitas destas viagens são proporcionadas por agências que, além de estadia, voos e passeios turísticos pelas cidades, incluem nos seus pacotes a garantia de vacinação contra a Covid-19 e, alguns, com possibilidade de escolherem a vacina com que querem ser imunizados. Segundo avançou o jornal Milenio, já existem cerca de 50 agências no México a oferecer este tipo de serviço.
Ainda não há dados oficiais mas, segundo o El Confidencial, um relatório da rede Imagen Televisión revela que, pelo menos, entre 100.000 e 120.000 mexicanos já viajaram para os EUA, nomeadamente para a Califórnia, Texas e Flórida para serem inoculados, entre 1 de janeiro e 1 de maio.
De acordo com o mesmo jornal, a Associação Mexicana de Agências de Viagens indicou que, só nas duas primeiras semanas de abril, foram vendidos, a 800 euros por pessoa, 120.000 pacotes de viagens com esse objetivo — a vacinação.
O El Confidencial conta a história de uma mexicana, cujo pai morreu num hospital devido a complicações causadas pela Covid-19: tendo em conta tudo o que sofreu com a morte do pai e tendo possibilidades para isso, quando soube que era possível vacinar-se nos EUA, marcou a viagem para Miami e foi com amigos e família.
Os dados do Our World in Data indicam que o México, com 128 milhões de habitantes, administrou a primeira dose de uma das vacinas (Pfizer e Astrazeneca) a apenas 11% da população, o que pode comprometer a ambição do executivo mexicano de vacinar dois terços da população até agosto.