O presidente do Eurogrupo admite que as verdadeiras consequências da crise económica provocada pela pandemia só surjam depois da retoma, mas manifesta-se otimista, por estar convencido de que, nessa altura, as economias estarão “a recuperar muito rapidamente”.

Em entrevista à Lusa, Pascal Donohoe, em Lisboa para as reuniões do Eurogrupo e do Ecofin, aponta que, à medida que forem reduzidos os atuais “níveis muito elevados de apoio orçamental”, “os desafios podem tornar-se aparentes”.

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“O trauma, em muitos acontecimentos importantes, pode por vezes acontecer após o acontecimento, e não durante”, afirma Donohoe, frisando como a atual crise tem sido “incrivelmente difícil para a saúde mental” e “para o bem-estar de tantas dezenas de milhões de pessoas em toda a Europa”, que perderam subitamente o emprego e os rendimentos.

“É por isso que o Fundo de Recuperação e Resiliência é um plano a médio prazo. É por isso que é um plano concebido para fornecer apoio adicional às economias em 2022, 2023 e 2024, e não apenas em 2021, porque reconhecemos que é provável que as réplicas venham depois da retoma”, afirma. Nessa altura, defende, é provável que todos os países da União Europeia (UE) precisem de ajuda adicional, embora, “na verdade”, seja “difícil saber neste momento”.

“Dispomos de níveis muito elevados de apoio orçamental, que têm apoiado muitos empregadores, e à medida que fazemos mudanças nos níveis de apoio, os desafios podem então tornar-se aparentes”, explica. “Mas estou otimista quanto a isso”, acrescenta, frisando a “capacidade [da UE] de responder a novos desafios” e apontando que essas dificuldades vão surgir “quando as economias estiverem a recuperar e a recuperar muito rapidamente”.

O presidente do Eurogrupo distingue, neste ponto, a retoma da recuperação: “não é o mesmo”, “a retoma é a primeira parte da recuperação”. “O crescimento de que necessitamos tem de desenvolver-se após a retoma. E é por isso que o nosso trabalho não está, de modo algum, concluído”.

Sobre as lições tiradas da atual crise, Pascal Donohoe frisa que a UE “demonstrou resiliência” na forma como lidou com “este choque”, o que lhe dará “confiança para navegar no futuro”, em que a prioridade, aponta, tem de ser a “resposta à emergência climática”. “Uma tarefa tão urgente que temos de continuar a fazer o nosso trabalho”.