Como é que a direita pode “fortalecer-se” e voltar às “maiorias absolutas”, acabando com o ciclo de António Costa no poder? Para os participantes do Movimento Europa e Liberdade, que arrancou esta terça-feira, esta é a pergunta de um milhão. E para o líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, existe um caminho: é preciso que a direita rejeite a “obsessão pelo centro” e os “fretes ao PS” e que saiba “conversar” entre si, sem “limitações”.

Foi no encerramento deste primeiro dia, que tinha já contado com uma intervenção do líder da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, que Rodrigues dos Santos falou. Desde logo, com um “cumprimento especial” a Pedro Passos Coelho, que assistia à sessão na plateia. E logo a seguir com um aparente desafio a Rui Rio: logo nos primeiros minutos de discurso, o democrata-cristão rejeitou a “direita envergonhada” e foi mais longe, pedindo a tal direita que rejeite o centro, que resumiu a “uma ideologia de fachada” que se confunde com “o poder pelo poder”. Ainda mais claro: “Tem de começar por dizer que é de direita para um dia ser a direita”.

Ora quem já disse de forma clara — e pública — várias vezes que o seu foco está no centro e não na direita é… o presidente do PSD, Rui Rio, que virá esta quarta-feira discursar para encerrar o evento. Se o recado não era para o vizinho do CDS e parceiro de coligação autárquica, pareceu.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Para justificar a defesa desta estratégia, Francisco Rodrigues dos Santos puxou pelo exemplo madrilenho — há semanas, a candidata do PP, Isabel Ayuso, venceu as eleições na Comunidade Autónoma de Madrid com o lema “comunismo ou liberdade”, como recordou o líder do CDS. “Mostrou que a direita que conta é a direita que se mobiliza para derrotar a esquerda, sem timidez, sem pseudo-simpatias, sem pedir autorização para afirmar o que pensa”, resumiu Rodrigues dos Santos.

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Voltando ao exemplo de Ayuso, a candidata do PP venceu com uma maioria clara mas precisa dos votos do Vox — pelo menos a abstenção, que já foi garantida pelo partido — para formar o Governo local. E em Portugal? Rodrigues dos Santos deixou uma possível pista sobre o assunto, já no final do discurso: “Saibamos continuar a conversar entre nós, a combater as limitações que nos querem impor”, pediu, apesar de o Chega ter ficado de fora do acordo autárquico que CDS e PSD assinaram.

Sobre o próprio partido, e os novos partidos que surgiram à direita — o Chega, mas também a IL — um aviso: “Só é possível construir uma direita forte com um CDS forte. O espaço do CDS é insubstituível: aqueles que procuram o CDS fora do CDS não o vão encontrar”.

“Rede do PS é maior e mais poderosa de sempre”

O resto da intervenção foi dedicado sobretudo a um conjunto de fortes ataques ao PS: “O socialismo tem dividido o Estado pelos amigos”, começou por dizer, numa crítica semelhante às que Cotrim de Figueiredo tinha tecido na sua intervenção, pela manhã. “São os verdadeiros Donos Disto Tudo e tratam o Estado como se fosse a sua casa (…).  A rede de poder do PS é hoje a maior e mais poderosa de sempre, pelos laços que criou e ficaram, pelo arranjo de circunstância com a extrema esquerda, pelo abatimento da economia e dos cidadãos”.

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Além das críticas à carga fiscal e à insuficiência do crescimento económico português, Rodrigues dos Santos defendeu ainda que a esquerda e o socialismo “dão guarida a todos os temas fraturantes de que se lembram todas as minorias, querendo convertê-los em ideologia oficial do Estado e celebram “revoluções comunistas nas ruas e praças”; “querem destruir monumentos, cancelar a nossa cultura e reescrever a nossa História”. O socialismo, rematou, “compromete não apenas o desenvolvimento, mas a nossa liberdade. E é de liberdade que temos de falar este ano, mais do que nunca”.

O líder do CDS lembrou ainda alguns dos casos mais quentes com que o Governo tem sido confrontado e com que disse lidar com “a decadência moral e política do comunismo”, como os erros no currículo do procurador europeu ou a requisição civil em Odemira. Já o Plano de Recuperação e Resiliência, descreveu, é “um verdadeiro guião para a estagnação económica”.

Dizendo que o MEL já valeu por estar a mostrar sinais de que “provoca” e “incomoda”, Rodrigues dos Santos criticou ainda o “politicamente correto”, sentenciando: “O país precisa da direita para conquistar essa liberdade.”

Essa direita, reafirmou, tem de ser “forte”. Para isso, precisará de que o CDS se fortaleça, reconheceu, prometendo “colocar o PP no lugar que merece e que sempre foi o seu”, recordando as experiências de Governo do partido. Objetivo: voltar às “maiorias absolutas, de novo”. E, para o líder do CDS, garantir também a própria sobrevivência, tendo em conta as sondagens pouco simpáticas com que tem convivido, a somar a umas eleições autárquicas que acontecerão ainda este ano.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR