Há empresas que alegam perdas em investimentos em empresas do Grupo Espírito Santos ou ações do BES para recusar pagar os créditos que passaram para o Novo Banco. Nestes casos foram instauradas ações judiciais pelo banco, tendo havido já decisões favoráveis, mas também desfavoráveis, revelou o administrador do Novo Banco esta sexta-feira na comissão parlamentar de inquérito.

Aconteceu que empresas que tinham feito investimento em empresas do GES, mesmo não tentado esses títulos como colaterais, que depois da resolução disseram que perderam dinheiro e levantaram problemas no pagamento da dívida. Rui Fontes admitiu que foi uma surpresa. O administrador do Novo Banco foi questionado pela deputada do PS, Isabel Oneto, sobre as declarações do presidente da comissão de acompanhamento, Bracinha Vieira, a revelar a existência de casos de “default estratégico” de pessoas ou entidades na órbita do Banco Espírito Santo.

“Há muita gente que não paga (ao Novo Banco) porque investiu (e perdeu) no GES e acha que não deve pagar”, diz Bracinha Vieira

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Rui Fontes adiantou que estes investimentos não eram do conhecimento do banco porque os clientes não usaram os títulos como colaterais dos financiamentos. Houve também casos de clientes que perderam dinheiro em ações do BES, o que potenciou perdas no crédito. Perante situações de entidades de que não pagam porque não querem, o banco avançou com ações judiciais contra essas entidades para receber.

A deputada socialista pergunta que entidades estão na situação apontada por Bracinha Vieira. O administrador do Novo Banco não associa necessariamente estes casos a um “default estratégico” porque os clientes estão a fazer valer os seus direitos. Mas indica que um dos casos que surpreendeu foi o do grupo Alves Ribeiro, que tinha uma operação cruzada com BES, e que recusou pagar. O caso está no tribunal de segunda instância. Também refere uma empresa brasileira de construção Asperbras que comprou papel comercial do GES e invocou esse motivo para não liquidar a dívida contraída ao Novo Banco. O litígio encontra-se num tribunal arbitral francês. Estes são os maiores casos. A auditoria da Deloitte aponta o caso do grupo Tricos que alegou perdas no BES para não pagar dívida.

Rui Fontes é administrador do Novo Banco desde 2017 com o pelouro do risco e foi diretor do departamento de risco entre 2012 e 2014 no tempo do Banco Espírito Santo. O responsável revelou que a concessão do crédito no tempo de Ricardo Salgado era decidida pelo conselho financeiro de crédito onde o departamento de risco não tinha lugar. Os créditos eram decididos sem o parecer do risco. Confirmou ainda que a sua nomeação para a administração do Novo Banco por indicação do Fundo de Resolução e António Ramalho e com parecer favorável do Banco Central Europeu.