Foi a diplomacia a funcionar. Antes de ser tornado público que Portugal saía da lista verde do Reino Unido, o ministro dos Negócios Estrangeiros foi previamente informado. Nessa altura, disse Augusto Santos Silva, foram-lhe dadas “as explicações técnicas” que sustentaram a decisão do Governo de Boris Johnson e que se prendem com os casos relacionados com a variante nepalesa do coronavírus a circular em Portugal. Mas a diplomacia não foi suficiente para o ministro aceitar de ânimo leve a decisão que considerou “intempestiva”. Para além disso, garante que não há nenhuma variante nepalesa a correr em Portugal. O que há, esclareceu Santos Silva, são 12 casos de uma mutação da variante indiana.

“Esta decisão foi surpreendente para mim. Ao longo destas 3 semanas, o Reino Unido não pediu informação adicional nem sinalizou nenhuma preocupação superveniente”, disse o chefe da diplomacia portuguesa, sexta-feira ao final da tarde, em declarações à SIC Notícias. O prazo apontado pelo governante prende-se com a última atualização britânica dos países de onde se pode regressar sem medidas de segurança adicional.

No imediato, Santos Silva diz que vai continuar a trabalhar em conjunto com as autoridades britânicas de modo a que daqui a 3 semanas, na próxima revisão da lista verde — os países de onde um viajante pode chegar sem ter de fazer quarentena antes de entrar no Reino Unido —, Portugal possa estar, de novo, na lista verde.

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Decisão do Reino Unido foi “infundada, intempestiva”

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, a decisão do Reino Unido de retirar Portugal da lista verde “foi infundada, intempestiva”. Na sua opinião, só é possível saber que há 12 casos da mutação que incomoda os britânicos porque Portugal segue a evolução da pandemia ao minuto. Essa transparência devia ser “valorizada e não castigada” disse, recordando que o Financial Times citava um alto funcionário do Governo britânico que dizia exatamente isso, “que parecia que os portugueses estavam a ser vítimas da sua própria transparência”.

Augusto Santos Silva fez ainda questão de sublinhar que “a variante dita nepalesa”, não é uma nova variante, mas antes “uma mutação da variante indiana”.

“Não me parece haver nos argumentos britânicos razões que justificam uma decisão desta”, acrescentou. “Outras das razões que faz com que seja dificilmente compreensível, do ponto de vista intelectual, a decisão britânica é a similitude das situações pandémicas vividas nos dois países.”

Tal com já o tinha feito horas antes, Augusto Santos Silva voltou a dizer estar disponível para ir ao Parlamento explicar aos deputados o que vai o Ministério dos Negócios Estrangeiros fazer para lidar com a situação.

Ministro Michael Gove infetado? Terá sido “um compatriota”

Questionado sobre o episódio que envolveu o ministro de Estado britânico, Michael Gove — que esteve em Portugal com o filho para assistir à final da Liga dos Campeões e esteve em contacto com alguém infetado — Santos Silva põe de lado a ideia de que, se vier a contrair o vírus, tenha sido com um português a contagiá-lo.

“Se o ministro foi infetado em Portugal vamos acreditar que foi provavelmente infetado por um compatriota”, disse o ministro, lembrando que Michael Gove assistiu a um jogo entre duas equipas britânicas, num estádio onde a maioria dos adeptos eram também britânicos, apesar de se tratar do Estádio do Dragão, no Porto.

“O que sabemos é que todos os que entraram, fossem ministros ou operários, tinham de ter um teste negativo à Covid”, sublinhou Santos Silva. De resto, o ministro frisou que “não há nenhum país da União Europeia para onde seja seguro os cidadãos britânicos viajarem e diria que isso é mais um problema das autoridades britânicas do que da totalidade dos 27 Estados-membros” da UE.

Ministro britânico em contacto com infetado durante viagem a Portugal não vai ficar isolado