O tratamento com anticorpos monoclonais usado por Donald Trump, quando esteve infetado com SARS-CoV-2, mostrou ser útil a reduzir a mortalidade em doentes Covid-19 incapazes de produzir os seus próprios anticorpos, segundo um comunicado de imprensa do projeto Recovery, da Universidade de Oxford.
O medicamento, chamado Regeneron, combina dois anticorpos produzidos em laboratório (casirivimab e imdevimab), que se ligam a dois locais diferentes da proteína spike, a ‘chave’ que o vírus usa para entrar nas células humanas. Estes anticorpos, como aqueles que são produzidos pelo organismo, têm como objetivo impedir que o vírus entre nas células.
Regeneron autorizada a usar tratamento com anticorpos monoclonais nos EUA
Este cocktail de anticorpos monoclonais já tinha sido autorizado para uso de emergência nos Estados Unidos, mas apenas em doentes de alto risco não hospitalizados. Agora, o ensaio clínico contou com quase 10.000 doentes Covid-19 internados (entre os que tomaram o medicamento em teste e os que fizeram o tratamento normal, para comparação).
Agora sabemos que essa combinação de anticorpos não só é má para o vírus, como também é boa para os doentes com doença mais grave que não conseguiram desenvolver uma resposta imunitária própria. Essa é uma excelente notícia: é a primeira vez que qualquer tratamento antiviral demonstrou salvar vidas em doentes com Covid-19 hospitalizados”, disse Martin Landray, professor de Medicina e Epidemiologia na universidade de Oxford e um dos coordenadores do estudo.
Dos doentes envolvidos no estudo, um terço não tinha desenvolvido qualquer anticorpo como resposta do sistema imunitário à infeção, metade tinha desenvolvido anticorpos e para os restantes não foi claro se tinham anticorpos ou não.
O resultado dos ensaios clínicos mostra que a mortalidade entre os doentes que não tinham anticorpos (30%) foi o dobro da dos doentes com anticorpos naturais (15%) e que os primeiros beneficiavam mais do tratamento com anticorpos monoclonais.
Cocktail de anticorpos pode ajudar na prevenção das infeções dentro de casa
Entre os doentes sem anticorpos, os que receberam o novo tratamento tiveram uma menor taxa de mortalidade (24%), passaram menos tempo internados (menos quatro dias) e tiveram menor probabilidade de verem a doença agravar ao ponto de terem de ser ventilados.
Ao fim de uma semana, o risco de morte e receber ventilação mecânica reduziu para metade, refere o comunicado de imprensa da farmacêutica.
A farmacêutica mantém a confiança de que o medicamento também seja eficaz contra mutações que possam surgir durante o tratamento, isto porque usa dois anticorpos monoclonais — altamente eficazes a bloquear o vírus, diz a empresa — que se ligam a partes diferentes da proteína spike. Se uma mutação provocar uma mutação num dos locais, o outro continua a poder ser usado.