Os chefes de Estado e de Governo da UE concordaram esta sexta-feira em manter “o diálogo” com o Presidente russo, Vladimir Putin, mas afastaram, para já, a possibilidade de uma cimeira, afirmou a chanceler alemã.
“Agora serão trabalhados os formatos e condições em que o diálogo pode ser retomado. Hoje não foi possível chegar a um acordo sobre a que nível, se ao nível dos chefes de Estado, mas o importante é que o diálogo seja mantido”, disse Angela Merkel, no final do primeiro dia do Conselho Europeu, realizado em Bruxelas.
“Pessoalmente, gostaria de ter ido mais longe, mas (..) vamos continuar a trabalhar”, acrescentou a chanceler alemã, precisando que “não foi uma discussão fácil”. A Alemanha e a França apresentaram uma proposta para retomar as cimeiras com o Presidente russo, depois da reunião que Putin realizou, na semana passada, com o homólogo dos Estados Unidos, Joe Biden.
“A melhor maneira de resolver o conflito, já o vimos com o Presidente norte-americano, é falarmos uns com os outros”, disse a governante alemã, à chegada ao encontro. A proposta franco-alemã fez parte do debate sobre como canalizar as relações com Moscovo, deterioradas desde que a Rússia anexou a península da Crimeia, em 2014, com base numa proposta do Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, que procura retomar os encontros com o Kremlin, mantendo simultaneamente as sanções.
“Não foi possível decidir hoje se devíamos encontrar-nos na cimeira”, disse ainda Merkel. Para o Presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, “é demasiado cedo” para um encontro ao mais alto nível. “Até agora, não vemos mudança radical no comportamento de Vladimir Putin”, disse.
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, também se manifestou contra a proposta de Berlim e Paris, afirmando que não participaria numa reunião com Putin numa cimeira europeia, tal como a chefe do Governo da Estónia. “Da última vez, tivemos uma discussão muito boa com todos os líderes sobre a Rússia. Foi muito aberta, e todos concordámos que a Rússia é uma grande ameaça”, disse a primeira-ministra daquele país, Kaja Kallas.
Já o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, defendeu que “a relação com a Rússia não pode limitar-se às sanções económicas e à expulsão de diplomatas”. “A certa altura, é preciso ter a possibilidade de nos reunirmos à volta de uma mesa”, sustentou. Nas conclusões adotadas após várias horas de reunião, os chefes de Estado e de Governo da UE pediram a Moscovo uma atitude “mais construtiva” e um “compromisso político”, bem como a cessação de ações contra a UE e Estados-membros, e países terceiros.
Por um lado, os líderes europeus declararam-se “abertos” a um envolvimento seletivo com a Rússia, em questões como alterações climáticas, acordo nuclear com o Irão ou conflitos na Síria e na Líbia. “O Conselho Europeu irá explorar formatos e condicionalidades do diálogo com a Rússia”, sublinharam. Por outro, consideraram necessária uma “resposta firme e coordenada da UE e dos Estados-membros a qualquer atividade maliciosa, ilegal e perturbadora por parte da Rússia, com pleno uso de todos os instrumentos à disposição da UE e assegurando a coordenação com os parceiros”.
Para isso, convidaram a Comissão e o Alto Representante a “apresentar opções para medidas restritivas adicionais, incluindo sanções económicas”. Em paralelo, condenaram as recentes atividades cibernéticas maliciosas contra os Estados-membros, incluindo Irlanda e Polónia, e pediram que sejam estudadas “medidas apropriadas, no quadro da caixa de ferramentas da ciberdiplomacia”.
O primeiro dia do Conselho Europeu em Bruxelas terminou esta madrugada, após nove horas de discussões, sem declarações dos líderes das instituições à imprensa. A reunião ficou ainda marcada por um “debate profundo e, por vezes, até emotivo”, relativo à lei húngara que põe em causa os direitos das pessoas LGBTQI (lésbicas, ‘gays’, bissexuais, transgénero, ‘queer’ e intersexuais), de acordo com fontes europeias.
Ao contrário do que é habitual, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, não falaram à imprensa depois deste primeiro dia. Na chegada à cimeira europeia, na quinta-feira, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, refutou as críticas da UE à controversa lei que proíbe que se fale de homossexualidade nas escolas, e argumentou que a legislação “não é contra os homossexuais”, cujos direitos garantiu defender.