Uma série de contas LGBT na plataforma, app e rede social chinesa WeChat, geridas por estudantes universitários chineses, foram repentinamente apagadas e bloqueadas da rede social.

A notícia é dada pela agência noticiosa Reuters que, não referindo o número exato de contas que foram apagadas e bloqueadas da rede social, garante que foram “dezenas” e detalha que é mais um movimento que causa preocupação nas comunidades minoritárias na China, que se sentem perseguidas e ostracizadas no país.

O jornal britânico The Guardian especifica que muitas das contas que foram visadas funcionaram durante anos como espaços seguros para os estudantes universitários chineses assumirem a sua identificação com os movimentos LGBT e detalha que algumas das contas tinham dezenas de milhares de seguidores.

A informação da eliminação das contas na rede social foi denunciada à Agência Reuters por membros de grupos LGBT presentes em universidades chinesas. Numa fase inicial, já esta semana mas ainda na terça-feira, os estudantes em causa ter-se-ão apercebido de que as contas estavam bloqueadas, não conseguindo aceder às mesmas. Mais tarde, verificaram que todo o conteúdo publicado tinha sido apagado.

Se no caso de alguns grupos LGBT na rede social WeChat os utilizadores nem sequer encontravam essas pequenas comunidades online nas suas pesquisas, noutros casos deparavam-se com um alerta de que os grupos em causa, de que eram membros, “tinham violado as regras de gestão de contas” do WeChat.

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Da China chegam acusações de “censura” e “saneamento” por parte dos gestores de grupos de estudantes LGBT na rede social — a mais usada no país —, que preferiram não se identificar por temerem represálias do regime comunista que governa o país. O jornal britânico The Guardian usa mesmo a palavra “repressão” para descrever este ataque cibernético a grupos universitários de estudantes LGBT.

A relação das autoridades chinesas com as comunidades LGBT e o respeito do regime pela diferença e pelas orientações sexuais da população do país tem sido amplamente questionado nos últimos anos, até pelo historial das últimas décadas.

Como lembra a Reuters, até 2001 a homossexualidade era classificada oficialmente na China como uma perturbação mental — e ainda este ano, duas décadas depois, um tribunal sustentou e legitimou a posição de uma universidade chinesa que retratou a homossexualidade como um “distúrbio psicológico”. A orientação sexual esteve aliás ilegalizada no país até 1997.

Em maio terá existido mesmo uma reunião entre grupos de estudantes universitários LGBT e representantes da Liga da Juventude Comunista da China, uma espécie de juventude partidária do Partido Comunista Chinês. O encontro terá servido para que o Governo e o Partido Comunista da China tentasse descortinar se não existiria uma “deslealdade” dos grupos de estudantes LGBT às posições do regime e à própria China e se eram financiados por entidades estrangeiras. Esses grupos terão sido depois desmantelados, colocando-se em causa a liberdade de associação.

As comunidades LGBT não são o único alvo recente do Partido Comunista Chinês e do regime: de acordo com o The Guardian, uma conta popular na rede social Weibo, de uma mulher chamada Zhou Xiaoxuan, foi recentemente eliminada por “infringir as regras” da rede social. Zhou Xiaoxuan, mais conhecida como Xianzi, é uma das personalidades na China mais associadas ao movimento de denúncia de assédio a mulheres #MeToo, na sequência de uma acusação feita por Xianzi a um antigo empregador — um conhecido apresentador de televisão da China — por assédio sexual.