O currículo de John Textor, o milionário norte-americano que terá chegado a acordo para comprar 25% da Benfica SAD por 50 milhões de euros, levando assim o Ministério Público a desencadear a operação Cartão Vermelho, é vasto e impressionante. Foi fundador da fuboTV, uma plataforma de streaming, está envolvido nos negócios dos hologramas (tendo ajudado a idealizar o museu dos ABBA) e é proprietário de uma loja de skateboarding. No passado, foi o antigo dono de uma empresa que fez efeitos especiais para filmes como o “Titanic”, “Tranformers” e “Piratas das Caraíbas” e ainda foi um dos pioneiros no investimento no setor da banca digital.
Com 55 anos e licenciado em economia, John Textor é fã incondicional de desporto e o eventual negócio no clube da Luz não seria o primeiro no mundo do futebol, tendo já montado uma academia de treinos na Flórida. Recentemente também demonstrou estar interessado na compra do clube londrino Crystal Palace, que atualmente joga na Premier League inglesa. Aliás, o jogador Jacob Montes, que se formou na academia do milionário, assinou pela equipa inglesa em maio.
Mas John Textor tem outros interesses e um deles é o dos hologramas — a revista Forbes chegou mesmo a chamá-lo de “guru da Realidade Virtual de Hollywood”. Isto porque o magnata — na sua empresa FaceBank — foi um dos principais criadores de várias atuações que envolvem este tipo de tecnologia. Um desses exemplos ocorreu na edição de 2014 dos Billboard Music Awards, com a atuação do holograma de Michael Jackson, mas também esteve envolvido no Virtual Tupac, na edição do Festival Coachella em 2012, e ajudou a desenvolver o museu da banda sueca ABBA, que aposta forte na realidade virtual.
A experiência em utilizar realidade virtual do milionário veio da gestão da empresa Digital Domain, na qual John Textor assumiu o cargo de diretor executivo, e que ajudou a elaborar os efeitos visuais de vários filmes como “Titanic” e “O Estranho Caso de Benjamin Button”, que chegaram a ser distinguidos com um Óscar na categoria de Efeitos Especiais. No entanto, apesar do sucesso, o negócio acabou de forma trágica. O estado da Flórida acusou, em 2014, a Digital Domain de lesar os contribuintes em mais de 80 milhões de dólares (cerca de 68 milhões de euros) e o milionário era um dos 23 acusados por crimes de fraude e de corrupção ativa.
Em causa estava a criação de uma espécie de franquia da Digital Domain (que originalmente era californiana) na Flórida. No processo, pode-se ler que, devido às dívidas que um dos principais acionistas (Falcon Mezzanine Partners) da Digital Domain detinham, a empresa decidiu recorrer a fundos públicos para estabelecer uma nova startup na Flórida, com “a promessa de trazer milhares de empregos”, assegurando os responsáveis políticos do estado “de que não haveria laços empresariais com a Digital Domain Califórnia”. Todavia, depois veio a descobrir-se que o dinheiro do Estado serviu para cobrir as dívidas da Falcon Mezzanine e que o “principal mentor do plano foi John Textor, nativo da Flórida”.
Mas a acusação acabou por não dar em nada: John Textor venceu o processo e foi mesmo indemnizado em 8,5 milhões de euros (cerca de 7 milhões de euros) pelo Estado da Flórida. Ainda assim, o magnata acabou mesmo por abandonar a empresa.
Em 2015, estreia-se no mundo do streaming com a fuboTV, uma plataforma que serve essencialmente para transmitir eventos desportivos (desde o futebol americano profissional, a NFL, ao basebol da MLB) e onde assumiu o cargo de acionista maioritário e diretor executivo. Chegou a ter uma capitalização de mercado de mais de 200 milhões de dólares (cerca de 170 milhões de euros) e atraiu investimentos das cadeias de televisão como a AMC Networks, a Disney ou a Viacom.
Em março de 2020, ocorreu a fusão desta empresa com a FaceBank e, um mês depois, John Textor decidiu abandonar o cargo de diretor executivo, apesar de continuar a ser o sócio maioritário.
O seu mais recente negócio terá acontecido há três semanas. Em Portugal e com o Benfica, segundo conta este sábado o jornal Nascer do Sol. Luís Filipe Vieira, o Rei dos Frangos (José António dos Santos) e John Textor terão chegado a acordo e assinado um contrato-promessa de compra e venda em que o empresário norte-americano ficava com 25% das ações da Benfica SAD por 50 milhões de euros. Contudo, o investimento não foi comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o que constitui uma contraordenação grave. O empresário só terá adiantado um milhão de euros, longe dos 50 milhões acordados.