O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, defendeu que o enchimento da megabarragem no Nilo Azul “não irá infligir qualquer dano significativo” a Egito e Sudão, que procuram ajuda internacional para resolver uma disputa sobre esta infraestrutura.

A mensagem, publicada na plataforma Twitter por Abiy Ahmed, em árabe, surge um dia depois de Egito e Sudão terem instado o Conselho de Segurança das Nações Unidas a empreender uma “diplomacia preventiva” e terem pedido um acordo juridicamente vinculativo para a resolução da disputa, noticia a agência Associated Press.

A Etiópia, por outro lado, insistiu que o assunto pode ser resolvido pela União Africana, uma posição apoiada por vários membros do Conselho de Segurança.

Egito e Sudão remeteram para o fracasso de 10 anos de negociações e referiram que a Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD, em inglês) está a iniciar um segundo enchimento.

Cairo e Cartum apontam que tal viola um acordo de 2015 e representa uma “ameaça existencial” para 150 milhões de pessoas nas duas nações a jusante.

Atualmente, a GERD está 80% concluída, esperando-se que atinja a plena capacidade de produção em 2023, o que a tornará na maior central hidroelétrica africana e a sétima maior do mundo, segundo órgãos de comunicação social estatais.

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O ministro da Água da Etiópia, Seleshi Bekele Awulachew, defendeu o enchimento do reservatório, argumentando que faz parte da construção da barragem e que o Conselho de Segurança da ONU não deve ser envolvido.

O ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Sameh Shukry, reiterou que as ações da Etiópia ameaçam a segurança do Egito e do Sudão.

Após o fracasso das últimas rondas negociais, realizadas entre 04 e 06 de abril sob os auspícios da presidência rotativa da União Africana, a Etiópia disse que iria avançar com o processo de enchimento da GERD e que fez uma oferta ao Egito e ao Sudão para facilitar a troca de informações sobre o processo, que ambos os países rejeitaram.

Cairo e Cartum, por sua vez, alertaram Adis Abeba sobre a tomada de qualquer “ação unilateral”, afirmando que, nessa eventualidade, “todas as opções estarão abertas”.

Os dois Estados consideram que o processo de enchimento da barragem pode afetar gravemente os níveis de água do Nilo nos seus respetivos troços.

A Etiópia, por sua vez, considera que o projeto é estratégico para o seu desenvolvimento, tanto em termos de irrigação, como em termos de produção de eletricidade.

Agora, uma nova declaração de Abiy Ahmed afirmou que a barragem “pode servir como fonte de cooperação” entre os três países e que esta representa “uma pequena porção do fluxo de água”.

A GERD, avaliada em mais de 4 mil milhões de dólares (mais de 3,5 mil milhões de euros), deverá recolher 13,5 mil milhões de metros cúbicos de água do rio Nilo Azul durante a época chuvosa, aumentando a reserva para 18,4 mil milhões de metros cúbicos, segundo este departamento governamental.

O Nilo Azul, rio que conflui com Nilo Branco e com o rio Atbara, é um dos principais contribuintes do rio Nilo, sendo responsável, durante a estação chuvosa, por até cerca de 80% da água deste último.

Sudão e Egito temem que a construção do projeto, que vai permitir à Etiópia gerar 6.000 megawatts de eletricidade, coloque o caudal do rio Nilo sob o controlo da administração etíope.

Com cerca de 6.000 quilómetros, o rio Nilo é uma fonte vital para o abastecimento de água e eletricidade para cerca de 10 países da África Oriental.