Enviado especial do Observador, em Tóquio

Não era propriamente muito conhecido, tornou-se numa autêntica estrela mundial – e tudo em pouco mais de uma semana. Quando chegou aos Mundiais de Budapeste, em 2017, Caeleb Dressel, então com 20 anos, não tinha sequer uma medalha na maior competição internacional extra Jogos Olímpicos; nessa edição, ganhou sete, todas de ouro entre provas individuais e estafetas, sendo que no dia a seguir foi fazer um exame de álgebra que estava marcado no curso. Estava criado o modelo para o próximo Phelps, o modelo que fez sempre questão de fugir.

Hoje, a sétima medalha; amanhã, o teste de álgebra. O maravilhoso mundo do novo Phelps, Caeleb Dressel

“Sei que as comparações são inevitáveis mas não quero ser comparado ao Michael [Phelps], adoro o Michael. Adoro-o de morte, acabou de mandar-me uma mensagem a dizer ‘Bom trabalho’. É um grande gajo e um grande líder. Não sou capaz de me colocar nesse grupo de Spitz e Phelps, comecei agora a molhar os meus pés na natação internacional. Agora estou apenas a divertir-me, não estou ainda a contar medalhas. Sei que os resultados vão aparecer mas não penso nas coisas assim para não colocar mais pressão sobre mim”, disse depois de uma competição de sonho que teve continuidade em Gwuangju dois anos depois, quando nos Mundiais da Coreia do Sul conseguiu superar Phelps com oito medalhas numa só edição da prova (seis ouros, duas pratas).

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Aí, tendo em conta que todas as atenções estavam centradas nele, Dressel deu nas vistas por andar sempre com uma bandana azul e amarela na mão, antes e depois das provas. Antes, cheira-a, beija-a e arruma; depois, vai com ela embrulhada na mão para o pódio (essa coisa de entrar na piscina e não falhar uma medalha só mesmo se for na qualificação). E foi isso que voltou a acontecer mais uma vez, em memória de Claire McCool, a antiga professora de matemática que foi uma espécie de mentora e que acabou por não resistir a um cancro da mama, poucos meses depois do brilharete nos Mundiais de 2017, sendo ainda hoje recordada por Dressel.

Não há nada que tenha maior significado para mim do que aquela bandana. Vi-a no leito da morte. Era ainda a mulher mais forte que alguma vez conhecia. Está comigo em todas as provas e vai estar até ao final da minha carreira”, explicou depois do recorde de medalhas em Gwuangju.

A professora, o cancro na mama e uma bandana: a comovente inspiração de Caeleb Dressel para bater recorde de Phelps

Como não poderia deixar de ser, Caeleb Dressel foi notícia por tudo nestes Jogos Olímpicos, a começar por um gesto de enorme nobreza depois que conseguir a primeira medalha de ouro na estafeta de 4×100 livres: após passar pelo pódio, menos de uma hora de ter sido o primeiro a sair para a prova e de ter garantido uma boa vantagem para a equipa, chamou à primeira fila Brooks Curry, que tinha estado nas eliminatórias, e atirou-lhe a sua medalha, quase como um prémio por ter sido a parte menos visível de um sucesso coletivo. Depois, a estrela americana foi mais comentado pela ausência na final dos 4×200 livres, que terminou sem que os EUA chegassem sequer ao pódio e com alguma contestação da imprensa pela opção tomada para essa estafeta.

Esta quinta-feira, o palco era seu. Depois de uma qualificação fortíssima, o americano chegava como favorito á final dos 100 metros livres e não deu mesmo hipóteses à concorrência, vencendo com um novo recorde olímpico de 47.02, muito perto dos 46.91 de César Cielo em 2009. O australiano Kyle Chalmers conseguiu para si a prata, ao passo que o russo Kliment Kolesnikov ficou com o bronze. David Popovici, jovem romeno que tem sido uma das sensações nestes Jogos, acabou por não ir além da sétima posição da penúltima final do dia. Pouco depois, Dressel não conseguiu aguentar as emoções na zona de entrevistas rápidas das televisões, chorando quando lhe mostraram uma imagem de familiares e amigos juntos nos EUA a festejar a vitória.

https://twitter.com/KelynSoong/status/1420576247793561604