A Associação espanhola de Mulheres Cineastas e de Meios Audiovisuais (CIMA, sigla em castelhano) condenou esta terça-feira a decisão do Festival de Cinema de San Sebastián de atribuir um prémio carreira ao ator norte-americano Johnny Depp, acusado de violência doméstica.
A presidente da CIMA, Cristina Andreu, em declarações à agência Associated Press (AP), mostrou-se “muito surpreendida” com a decisão do festival anunciada na segunda-feira, de atribuir a Johnny Depp o prémio Donostia da 69.ª edição do certame, que decorre entre 17 e 25 setembro.
“Isto diz muito do festival e da sua liderança e passa uma mensagem terrível ao público: ‘Não interessa se és um abusador, desde que sejas um bom ator”, afirmou Cristina Andreu.
A CIMA, que tem ligações estreitas com o festival de San Sebastián, está a “estudar os próximos passos a dar”, acrescentou.
Em 2018, Johnny Depp acusou um tabloide britânico de difamação por ter publicado um artigo a relatar agressões contra a ex-mulher, e perdeu em tribunal.
Em março deste ano, um tribunal britânico recusou ao ator a possibilidade de recorrer da decisão de que teria agredido a ex-mulher, a modelo e atriz norte-americana Amber Heard, considerando que a sua tentativa de reverter a decisão “não tinha perspetiva real de sucesso”.
Na sequência desse caso, Depp abandonou o elenco do próximo filme da saga “Monstros Fantásticos”, levando a revista especializada Variety a questionar se a carreira do ator conseguiria sobreviver.
O prémio Donostia do Festival de San Sebastián foi criado em 1986 para “reconhecer o extraordinário contributo ao mundo do cinema dado por grandes figuras que ficarão para sempre na sua história”.
Ator Johnny Depp recebe prémio de carreira do Festival de San Sebastián
Classificado pelo festival como “um dos mais talentosos e versáteis atores do cinema contemporâneo”, Depp deverá receber o galardão no dia 22 de setembro, naquela que será a sua terceira passagem pelo festival basco.
Estreante no cinema com “Pesadelo em Elm Street”, em 1984, ganhou popularidade no meio ao protagonizar, seis anos depois, “Eduardo Mãos de Tesoura”, de Tim Burton, e “Quem Não Chora Não… Ama”, de John Waters.
Três vezes nomeado aos Óscares, vencedor de um Globo de Ouro (em 2008, por “Sweeney Todd”, também de Tim Burton), conquistou ainda um prémio de melhor ator do sindicato da profissão pela sua interpretação no primeiro filme da saga “Piratas das Caraíbas”.
“Depp já interpretou escritores, polícias infiltrados ou foragidos, em elencos que o colocaram ao lado de figuras como Marlon Brando, Faye Dunaway, Jerry Lewis, Pene´lope Cruz, Helena Bonham Carter, Javier Bardem, Kate Winslet, Mark Rylance, Dustin Hoffman, Judi Dench, Antonio Banderas, John Malkovich, Marion Cotillard, Forrest Whitaker, Al Pacino, Benedict Cumberbatch, Morgan Freeman, Benicio del Toro, Michelle Pfeiffer, Leonardo Di Caprio e Christopher Plummer, entre muitos outros”, recordou o festival.
No passado, o prémio Donostia já foi atribuído a personalidades como Gregory Peck, Bette Davis, Lauren Bacall, Robert Mitchum, Al Pacino, Ethan Hawke e Sigourney Weaver, entre outros.
Este ano Depp vai ainda ser homenageado no festival checo de Karlovy Vary, anunciou esta quarta-feira a organização daquele evento, que também vai distinguir o ator britânico Michael Caine.