A secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, classificou esta segunda-feira a tomada de poder dos talibãs no Afeganistão como “uma tragédia que devia ter sido prevista e evitada” e que pode agravar-se “sem ação rápida e decisiva da comunidade internacional“.

A responsável da organização não-governamental alertou ainda para os “milhares de afegãos em sério risco de represálias dos talibãs“, desde “académicos e jornalistas a ativistas da sociedade civil e mulheres defensoras dos direitos humanos”, que “estão em perigo de ser abandonados a um futuro profundamente incerto.

“Os governos estrangeiros devem tomar todas as medidas necessárias para assegurar a saída segura para fora do Afeganistão de todos aqueles que correm o risco de ser visados pelos talibãs”, considerou.

Para esse efeito, Agnès Callamard referiu a “expedição de vistos, prestando apoio às evacuações do aeroporto de Cabul, providenciando a recolocação e reassentamento, e suspensão de todas as deportações e regressos forçados”.

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Ao mesmo tempo, instou os Estados Unidos a providenciar segurança contínua naquele aeroporto, onde o caos se instalou hoje devido a centenas de afegãos que tentavam fugir do país, mas visou também as Nações Unidas, nomeadamente o Conselho de Segurança.

À medida que o povo do Afeganistão enfrenta uma nova e dura realidade, o Conselho de Segurança da ONU deve também adotar uma resolução de emergência apelando aos talibãs – que agora controlam efetivamente o país – a respeitar a lei internacional dos direitos humanos, proteger civis e acabar com ataques de represálias, à medida que prosseguem as negociações sobre as disposições transitórias”, disse.

Pelo menos sete pessoas morreram esta segunda-feira no aeroporto de Cabul quando tentavam fugir dos talibãs, incluindo várias que alegadamente caíram de um avião em voo, com testemunhas a admitirem troca de tiros entre norte-americanos e rebeldes.

Militares norte-americanos, que falaram sob condição de não serem identificados por não estarem autorizados a discutir a operação em curso, disseram à Associated Press (AP) que o caos provocou sete mortos, incluindo vários que caíram de um avião que tinha descolado.

Num vídeo que se tornou viral nas redes sociais vê-se o que parecem ser dois corpos a cair de um avião que tinha acabado de descolar do aeroporto de Cabul.

Num outro vídeo, centenas de pessoas estão a correr ao lado de um avião militar norte-americano em andamento na pista, com algumas delas a conseguirem agarrar-se ao aparelho.

A chegada dos talibãs a Cabul no domingo precipitou a saída do país do Presidente afegão, Ashraf Ghani, após terem tomado o controlo de 28 das 34 capitais provinciais em dez dias, e sem grande resistência das forças de segurança governamentais, no âmbito de uma grande ofensiva iniciada em maio – altura em que começou a retirada das tropas norte-americanas e da NATO do país, que deverá ficar concluída no final deste mês.

Um porta-voz do movimento islâmico radical, que governou no Afeganistão entre 1996 e 2001, disse no domingo à televisão pública britânica BBC que os talibãs pretendem assumir o poder no Afeganistão “nos próximos dias”, através de uma “transição pacífica”, 20 anos após terem sido derrubados por uma coligação liderada pelos Estados Unidos, pela sua recusa em entregar o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Esta segunda-feira, numa mensagem de vídeo, o ‘mullah’ Baradar Akhund, chefe do gabinete político talibã no Qatar, fez a primeira declaração pública de um líder talibã após a conquista do país, anunciando o fim da guerra no Afeganistão, com a vitória dos talibãs, após a fuga no domingo do Presidente, Ashraf Ghani, e a captura de Cabul.

Com a partida de Ghani, um grupo de líderes políticos formou o Conselho de Coordenação para a transição de poder para os talibãs, composto pelo ex-presidente afegão Hamid Karzai, o presidente do Alto Conselho para a Reconciliação, Abdullah Abdullah, e o líder do partido Hizb-e-Islami e antigo senhor da guerra, Gulbuddin Hekmatyar.

No entanto, os talibãs não forneceram, até agora, informações sobre como funcionará o processo de transição ou a tomada do poder.