As pessoas vacinadas podem desenvolver uma carga viral tão alta quando infetadas com a variante Delta como as pessoas não vacinadas infetadas com esta variante, concluiu uma equipa que junta investigadores da Universidade de Oxford e de outras instituições do Reino Unido.

Isto quer dizer que, não só o vírus consegue entrar nas células humanas como se consegue replicar à mesma velocidade nas pessoas vacinadas e não vacinadas, algo que não acontecia com outras variantes anteriores à Delta. A vantagem dos vacinados é que são infetados com menos frequência do que os não vacinados.

Foi esta alta carga viral, causada pela variante Delta, mesmo entre as pessoas vacinadas que levou os Centros de Controlo e Prevenção a Doença norte-americanos a reverem a norma sobre o uso de máscara e a aconselhar que as pessoas, mesmo vacinadas, continuassem a usar máscara nos espaços interiores.

O que a variante Delta veio mudar. Os riscos, a eficácia da vacinação e como as medidas tradicionais a podem travar

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A boa notícia é que a variante Delta consegue criar uma carga viral alta (muitas cópias do vírus) nas vias respiratórias superiores, como no nariz, mas não conseguem fazê-lo nos pulmões, onde o sistema imunitário as combate prontamente. Logo, os vírus estão prontos a serem disseminados, mas não causam problemas tão graves nos vacinados.

E é isso que têm mostrado os resultados, mesmo em relação à variante Delta. As vacinas continuam altamente eficazes a prevenir a doença grave, internamentos e morte — os principais objetivos do desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19 —, como verificaram os autores.

Curiosamente, os investigadores verificaram que as pessoas vacinadas depois de terem estado infetadas estavam ainda mais protegidas da infeção do que as pessoas que receberam duas vacinas.

O maior risco de ter uma carga viral alta é que o vírus se transmita mais facilmente a outras pessoas (especialmente se for nas vias superiores e pronto a sair). Estudos preliminares têm levantado a possibilidade de que as pessoas vacinadas transmitam mais a variante Delta do que acontecia com outras variantes. Logo, as vacinas podem ser menos eficazes a travar a transmissão da variante Delta, mas impedir a transmissão não era o objetivo principal das vacinas, antes uma vantagem adicional.

Isso sugere a necessidade de foco contínuo nas atividades de testagem, rastreio de contactos e isolamento [dos infetados, incluindo vacinados] para reduzir o nível de disseminação na comunidade”, disse, num comentário, Penny Ward, professora no Kings College de Londres.

A equipa coordenada por Sarah Walker, da Universidade de Oxford, não consegue ainda determinar qual o risco de transmissão associado às altas cargas virais nas pessoas vacinadas, isto porque estes níveis altos podem manter-se por períodos de tempo muito mais curtos do que nos não vacinados, logo também transmitiriam o vírus durante menos tempo. Além disso, muitos vírus numa pessoa vacinada não significa que sejam todos viáveis.

O que os investigadores receiam é que as vacinas, apesar de protegerem as pessoas a nível individual, não sejam capazes de garantir a imunidade de grupo, colocando as pessoas não vacinadas em risco (porque as vacinadas podem transmitir o vírus), mesmo quando a maior parte da população estiver vacinada. A equipa defende ainda cautela na mudança das políticas em relação à testagem, isolamento e rastreio de contactos de pessoas vacinadas infetadas.

Portanto, embora as vacinas ainda estejam a reduzir os casos e as infeções assintomáticas, ainda precisamos levar a sério os sinais de infeção potencial nas pessoas totalmente vacinadas”, disse, num comentário, Simon Clarke, professor na Universidade de Reading.

O estudo, que ainda não foi revisto por cientistas independentes, comparou 2,6 milhões de amostras recolhidas no nariz e garganta de 384.500 adultos entre dezembro de 2020 e meados de maio de 2021 com os resultados de 811.600 testes feitos a 358.983 adultos entre meio de maio e 1 de agosto de 2021 (quando a Delta se tornou dominante). As pessoas que fizeram parte do estudo tinham sido vacinadas com uma de três vacinas: Oxford/AstraZeneca, Pfizer/BioNTech ou Moderna.