O xeque David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, sublinhou esta sexta-feira que “não há versículo sagrado do Alcorão que tenha proibido (…) a mulher, muçulmana ou não muçulmana, de trabalhar”.

Dirigindo-se aos fiéis presentes na Mesquita, ao início da tarde, o xeque Munir explicou que o que o Alcorão faz é definir “as responsabilidades e, ao definir as responsabilidades, não significa que o homem é superior e a mulher inferior e vice-versa”.

Numa intervenção transmitida pela rede social Facebook, na qual nunca se referiu diretamente à situação no Afeganistão ou à ação dos talibãs, David Munir lamentou, também, que sobre a “Sharia”, o sistema de lei islâmico que deriva do Corão e dos ensinamentos do profeta Maomé, haja “tanta desinformação na sociedade” e se ouçam comentários de “pessoas que não sabem o que é a ‘Sharia'”.

As pessoas ficam cada vez mais confusas e associam somente ´Sharia’ a algo negativo. ´Sharia´ é igualdade, misericórdia, é ‘todos nós somos iguais’, é não haver pobreza na sociedade, é cuidar do outro, é respeitar o outro”, disse David Munir, acrescentando que, “infelizmente, há situações em que o Islão é atacado sob variadíssimas formas pela prática de alguns muçulmanos”.

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O imã da Mesquita Central de Lisboa, em jeito de crítica, afirmou ainda que “quando um muçulmano comete uma agressão, um ato de agressividade, mesmo não praticando a sua crença, coloca-se na sua testa o rótulo de muçulmano. Mas, se mesma ação for feita por um não muçulmano (…), nunca se coloca o rótulo da sua crença, mesmo que ele o faça em nome da sua crença. Dizem que sofre de perturbação, está deprimido, tudo menos a sua crença”.

Apelando aos muçulmanos para que estejam informados, para que possam explicar sempre o que é o Islão, o xeque David Munir deixou claro que “cada um é responsável pelos seus atos”.

Se há um grupo muçulmano, seja de que origem for, que pratica ou diz algo contra o Islão, nós temos de estar prontos para dizer o que é na realidade o Islão”, acrescentou.

Os talibãs conquistaram a capital do Afeganistão, Cabul, no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO do país.

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.

Depois da tomada do poder, as forças talibãs proclamaram o Emirado Islâmico, em Cabul, tendo afirmado desde o princípio da semana que não procuram exercer atos de vingança contra os antigos inimigos e que estão dispostos para “a reconciliação nacional”.

Os talibãs já disseram que há “muitas diferenças” na forma de governar, em relação ao seu período anterior no poder, entre 1996 e 2001, quando impuseram uma interpretação da lei islâmica que impediu as mulheres de trabalhar ou estudar e que puniu criminosos de delito comum com punições severas como amputações ou execuções sumárias.