Há mais de 50 mil anos — talvez mesmo 65 mil —, a espécie de humanos à qual pertencemos atravessou a Wallacea a caminho do continente australiano. No entanto, o clima tropical desta região biogeográfica, que inclui as ilhas da Indonésia, torna difícil recontar a história dos humanos que aqui viveram: a humidade dos trópicos destrói os vestígios de ADN que possam ter ficado nos fósseis.
Milhares de anos depois, há mais de 7.200 anos, uma jovem mulher (de 17 ou 18 anos) foi enterrada numa sepultura dos caçadores-recoletores Toalean. Agora, os restos mortais de Bessé (como foi apelidada) foram descobertos na caverna de calcário na ilha de Celebes e, numa feliz exceção, os investigadores encontraram material genético no interior dos ossos petrificados.
A descoberta, publicada esta quarta-feira na revista científica Nature, tem um interesse especial, além de ser um dos raros momentos em que se recolhe ADN de fósseis no sudeste asiático: esta jovem tinha um perfil genético diferente de qualquer outro identificado até ao momento.
[Esta jovem mulher] partilha a maior parte da deriva genética e semelhanças morfológicas com os grupos atuais da Papua-Nova Guiné e dos aborígenes australianos, mas representa uma linhagem humana divergente, anteriormente desconhecida, que se ramificou por volta da época da divisão entre estas populações, há aproximadamente 37 mil anos”, escreveram os autores do artigo.
Entre os ancestrais, Bessé tem os povos que migraram pela Ásia até à Austrália, como seria de esperar, mas também sinais dos povos da Ásia de Leste. Até ao momento, pensava-se que estes humanos de origem na Ásia oriental tinham entrado na Wallacea há três ou quatro mil anos, mas Bessé pode obrigar a reescrever a história da evolução humana.
Wallacea pode ser, de facto, o ponto de encontro entre os humanos modernos e ancestrais, sugeriu a equipa que junta investigadores de instituições da Alemanha, Indonésia e Austrália.