Várias dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se neste sábado por toda a França contra o certificado de vacinação exigido pelo governo e contra a toma das vacinas, numa mobilização que se repete pela terceira semana consecutiva.
No final do dia, o Ministério do Interior francês anunciou que tinha contabilizado 160.000 manifestantes nas 222 marchas de protesto realizadas em todo o país, das quais 14.500 ocorreram em Paris.
No fim de semana passado, o ministério tinha contado mais de 175.000 manifestantes.
Já o grupo ativista Le Nombre Jaune, que publica a contagem cidade por cidade, contou na sua “primeira estimativa”, pelo menos, 319.290 manifestantes em toda a França, em comparação com os 357.100 de há uma semana.
Além das quatro marchas parisienses, as maiores manifestações tiveram lugar em Montpellier, no sul, (9.500 pessoas) e Mulhouse, no leste da França, (5.000).
De acordo com as prefeituras, havia também 4.000 em Toulon (sul) e Annecy, 3.000 em Marselha (sul) e 2.500 em Lyon (sudeste).
“A vacina não é a solução”, disse Hélène Vierondeels, uma professora do ensino púbico reformada, em plena manifestação parisiense organizada pelo movimento nacionalista de Florian Philippot, Les Patriotes, uma antiga figura da Frente Nacional.
Alguns dias antes do início do ano letivo, muitos manifestantes em Bordéus (sudoeste) reiteraram a sua recusa em vacinar as crianças.
“Não somos ratos de laboratório”, disse um rapaz de 11 anos à agência de notícias francesa AFP, juntamente com o seu pai, de 46 anos.
“Queremos viver num país livre, não há números que justifiquem a vacinação em massa”, disse o pai daquela criança, comparando a vacinação a nada menos do que “violação”.
Entretanto, centenas de milhares de pessoas de todos os estratos sociais – antigos “coletes amarelos”, ativistas “anti-vax”, teóricos da conspiração ou simples opositores de Emmanuel Macron – têm batido as ruas todos os sábados para denunciar vacinas e certificado.
AS manifestações têm decorrido sem incidentes a realçar até agora, à exceção de alguns raros episódios de lançamento de gás lacrimogéneo e detenções.
Quando questionado sobre o protesto, o Ministro da Saúde, Olivier Véran, disse esta semana que “a última reticência está a cair face ao sucesso do certificado de saúde”.
A apresentação deste documento, exigível em bares, restaurantes, transportes de longa distância e hospitais, pode ser prolongado além de 15 de novembro, o limite estabelecido por lei, “se a covid-19 não desaparecer das nossas vidas”, advertiu Véran.
“Este certificado é um escândalo”, disse Virginie, uma jardineira de 46 anos em Rennes que não quis revelar o seu apelido. “Esta vacina ainda é experimental, penso que não é nada fiável, e ainda mais perigosa do que a covid, que não é pior do que uma gripe grave”.
De acordo com as autoridades sanitárias, a pandemia de Covid-19 já causou mais de 114.000 mortes em França.
Desde 16 de agosto, o certificado digital tem também sido exigido em muitos centros comerciais franceses.
A partir de segunda-feira, será obrigatório os trabalhadores apresentarem-no nos locais onde os clientes o exijam. Os empregados que se recusarem a mostrá-lo podem ter os seus contratos de trabalho suspensos.
“Já fui convocada pela direção, não sei o que vou fazer, porque por um lado sou radicalmente contra ser vacinada e, por outro, arrisco-me a perder o meu emprego, tenho uma menina para alimentar”, disse Nancy Peschtel, uma educadora especializada, que trabalha num hospital de dia em Toulouse, estando sujeita à vacinação obrigatória.
Segundo os últimos números do Ministério da Saúde, mais de 48 milhões de franceses (71% da população) receberam pelo menos uma dose da vacina e 42,7 milhões receberam as duas.