Dos profissionais de saúde às Forças Armadas. Dos profissionais do setor da cultura aos que nunca pararam de trabalhar. Dos “autarcas de todos os partidos” a “todos os portugueses em geral”. E por aí adiante. António Costa dedicou quase os 10 minutos iniciais do seu discurso no congresso do Partido Socialista a agradecer aos que contribuíram para o combate à pandemia da Covid-19 e aos que sofreram as suas consequências. Mas o “esquecimento redondo” das forças de segurança deixou polícias “magoados”. “Um agradecimento não custa dinheiro às Finanças nem ao país. Um obrigado ficava barato“, diz ao Observador António Barreiras, coordenador da Delegação do Sul da Associação de Profissionais da Guarda (APG).

O que nos dói é o esquecimento redondo. Não há dúvida alguma: são ali mencionadas as Forças Armadas — e bem — e todos os profissionais de saúde. Deixa-nos magoados. Sentimo-nos completamente destroçados. As Forças Armadas tiveram um papel importante, mas esquecer aqueles que são visíveis ao olho do cidadão?”, questiona.

A mesma indignação é sentida entre os profissionais da PSP. “Vejo com muita normalidade, mas desagrado”, diz, em tom de ironia, o presidente do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL), Armando Ferreira, ao Observador, justificando: “Um líder de um Governo que propõe 68,96 euros de suplemento de risco, obviamente, nunca terá a consideração de agradecer aos polícias o trabalho todo que tiveram durante a pandemia“. “Estamos perante um Governo que não gosta dos profissionais das forças de segurança — e isso é mais do que evidente”, acusou.

“Somos o maior partido autárquico”. O discurso de António Costa no Congresso Nacional do PS

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Mais do que um “esquecimento”, António Barreiras considerou esta ausência de agradecimento uma “falta de consideração”, especialmente tendo em conta a “diversidade de situações” em que a GNR “teve intervenção” no combate à pandemia — e que quis elencar: “O fecho e controlo de fronteiras, as escoltas à chegada das primeiras vacinas, a vigilância das instalações onde estavam as vacinas, todo o controlo no âmbito de cercas sanitárias e desinfestação de lares e ambulâncias”.

Fomos esquecidos pelo primeiro-ministro. Foi o esquecimento dos homens e mulheres que servem as forças de segurança e que têm feito um trabalho de desgaste psicológico e físico no combate à pandemia. E uma falta de consideração por aqueles que, para lá disso, todos os dias saem de casa sem saber se voltam“, acrescentou o coordenador.

Também o presidente do SINAPOL quis lembrar o “papel de barragem de transmissão da doença entre concelhos” e os “sacrifícios ao nível de férias suspensas, folgas suspensas” dos elementos da PSP, “pondo em causa a sua saúde”.

António Costa discursou ao início da tarde deste sábado no Congresso do PS que decorre este fim de semana em Portimão. No arranque e depois de deixar uma palavra às quase 18 mil vítimas mortais da Covid-19, o primeiro-ministro fez uma série de agradecimentos. Começando pelos profissionais de Saúde, passou para as Forças Armadas pela “disponibilidade total” e a “mais valia” que representam para o país. Depois, agradeceu ao setor social, aos autarcas “de todos os partidos”, às pessoas que ficaram em isolamento ou aos que nunca pararam de trabalhar; aos empresários e aos trabalhadores que “viram o rendimento limitado” ou até perderam o emprego” e ainda aos profissionais do setor cultural. Por fim, agradeceu a “todos os portugueses em geral” pelo sentido cívico e pelo cumprimento de medidas sanitárias.  “Nem uma palavra de agradecimento [para as forças de segurança]”, lamenta o líder do SINAPOL.