Depois de semanas de espera e de vários adiamentos do anúncio do governo talibã, esta terça-feira o grupo extremista anunciou, finalmente, os membros do seu governo interino. Alguns deles já são caras conhecidas das forças talibãs, com alguns nomes a serem procurados pelas autoridades internacionais por serem considerados terroristas.
Talibãs nomeiam Mohammad Hasan como primeiro-ministro interino do Afeganistão
Muhammad Hassan Akhund – Primeiro-ministro
Mohammad Hassan Akhund, que vai assumir a chefia do novo governo interino afegão, já tinha integrado o governo dos talibãs durante os últimos anos do seu anterior regime (1996-2001), assumindo o papel de ministro do Negócios Estrangeiros e de vice-primeiro-ministro. A Reuters avança que Akhund é um dos membros mais próximos, há já 20 anos, do atual líder talibã Hibatullah Akhundzada, nome que ficou, para já, excluído desta nova formação governamental.
Akhund é considerado terrorista pela ONU, UE e Reino Unido, e foi sancionado pelo Conselho de Segurança da ONU, juntamente com outros membros do governo talibã nomeados esta terça-feira. As Nações Unidas dizem que o novo primeiro-ministro tinha a reputação de ter sido “um dos comandantes talibãs mais eficazes”, cita a France24.
Abdul Ghani Baradar – Vice-primeiro-ministro
O mullah Abdul Ghani Baradar é cofundador e número dois do grupo radical islâmico talibã e regressou a meados de agosto ao Afeganistão, deixando o Qatar, onde liderava o gabinete político da organização, dois dias depois de o movimento insurgente assumir o poder. O seu regresso marcou a primeira vez que um líder ativo dos talibãs regressou publicamente ao Afeganistão desde que o grupo foi destituído do poder, em 2001, pela coligação ocidental liderada pelos Estados Unidos após os ataques de 11 de setembro de 2001.
Abdul Ghani Baradar, nascido na província de Uruzgan (sul do país) foi criado em Kandahar e tornou-se cofundador do grupo talibã em parceria com o mullah Omar, que morreu em 2013. Tal como aconteceu com muitos afegãos, a sua vida foi marcada pela invasão soviética de 1979, que o tornou um mujaidine (Soldado de Deus). Em 2001, após a intervenção norte-americana e a queda do regime talibã, Ghani Baradar terá feito parte de um pequeno grupo de insurgentes que defendiam um acordo para assumirem a administração de Cabul, mas a iniciativa fracassou. Foi detido em 2010 enquanto líder militar dos talibãs, no Paquistão, sendo libertado em 2018, por pressão de Washington. Ouvido e respeitado pelas várias fações dos talibãs, foi então nomeado líder do gabinete político do grupo, localizado no Qatar.
Baradar terá sido um dos membros que liderou as conversações com os Estados Unidos e assinado o acordo que levou à retirada final dos EUA do Afeganistão. Acabou também por liderar as negociações de paz com o governo afegão, mas as reuniões não levaram a qualquer acordo e não trouxeram quaisquer avanços na divisão de poder com o governo de Cabul.
Sirajuddin Haqqani – Ministro do Interior
Nomeado Ministro do Interior, será talvez o nome que mais choca pelo facto de o paradeiro de Sirajuddin Haqqani valer mais de 4,2 milhões de euros — o dinheiro que os Estados Unidos, através do FBI, estão dispostos a pagar a quem fornecer informações que conduzam “diretamente” à detenção do homem por trás de ataques contra as forças norte-americanas na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, e tinha alegadamente conspirado para assassinar o então presidente Hamid Karzai em 2008. Haqqani é também procurado por ter ligações com um ataque de 2008 a um hotel em Cabul, que matou seis pessoas, incluindo um cidadão americano.
Além disso, Sirajuddin Haqqani é o atual líder de uma rede que herdou o seu apelido e que, não só contém grupos de guerrilheiros prontos a enfrentar a NATO e os militares norte-americanos no Afeganistão e Paquistão. A rede Haqqani é um grupo terrorista designado pelos EUA e é há muito visto como uma das fações militantes mais perigosas no Afeganistão.
Haqqani também controla as finanças do movimento talibã, tendo o seu grupo grande influência no conselho de liderança dos talibãs.
Mohammad Yaqoob – Ministro da Defesa
Mohammad Yaqoob é o homem das armas na liderança talibã — é filho de Mohammed Omar, fundador e líder supremo dos Talibã, que morreu em 2013, apesar de a sua morte só ter sido tornada pública em 2015, tendo Yaqoob confirmado a versão oficial da história, de que o pai tinha morrido de causas naturais, vítima de tuberculose, não pelas mãos de outro talibã. No novo governo interino talibã, Yaqoob assume o cargo de Ministro da Defesa, e é considerado pelo Ocidente como moderado pelos padrões talibã, tendo apoiado um fim negociado do conflito afegão de 20 anos, fazendo dele uma figura unificadora dentro do movimento.
O mullah Yaqoob acabou por nunca conseguir convencer os talibãs de que seria capaz de assumir a liderança, em vez de esta pertencer a Haibatullah Akhundzada, sobretudo por ser demasiado novo. No entanto, assumiu-se como braço direito do líder e responsável pela ação militar do grupo insurgente de todas as províncias com presença talibã — isto desde 2020 —, e terá sido ele o comandante das operações que culminaram na tomada de controlo do movimento islâmico no Afeganistão.
Amir Khan Muttaqi – Ministro dos Negócios Estrangeiros
Muttaqi é um importante membro sénior talibã que ocupou vários cargos no passado, incluindo o de ministro da Informação e Cultura e representante do governo talibã em negociações com as Nações Unidas. A sua equipa de negociação estava sediada num escritório em Doha, no Qatar, e Muttaqi terá chegado à capital afegã aquando da tomada de poder do grupo em Cabul e terá integrado conversações com a liderança política da cidade com o objetivo de construir um governo, revelou o Guardian a meio de agosto. Diz-se que Muttaqi começou a fazer contactos com líderes políticos afegãos mesmo antes de o presidente afegão Ashraf Ghani se ter afastado secretamente do Palácio Presidencial. No novo governo, assume interinamente a pasta dos Negócios Estrangeiros.
Sabe-se ainda que Hedayatullah Badri assumitá o cargo de Ministro das Finanças interino, e o mullah Abdul Salam Hanafi assumirá o cargo de adjunto de Hassan Akhund.