“Vamos ganhar o Porto, é hora da renovação.” Soa o hino de campanha de Vladimiro Feliz nas colunas do autocarro laranja, estacionado mesmo em frente ao um cartaz de Rui Moreira , capaz de o tapar quase por completo, na Praça Francisco Sá Carneiro, nas Antas. Os vendedores da Feira de Antiguidades e Velharias começam a arrumar lentamente as suas bancas, depois de mais um sábado de trabalho, mas não vão embora sem antes serem cumprimentados pelo candidato do PSD ao Porto.

Vladimiro Feliz chega ao local sem o blazer e a formalidade habituais, é de camisa azul com as mangas arregaçadas e sem máscara no rosto que entra no autocarro, que é também a sede da sua campanha, para se abastecer de jornais. Com uma resma considerável na mão, levanta o braço no ar e indica o caminho a fazer à sua comitiva. Boa tarde, posso deixar-lhe um jornal? Sou candidato à câmara municipal do Porto. Bom fim de semana.” Esta é a frase de arranque, cujo destino varia consoante o feedback de quem é abordado. Se uns o reconhecem dos cartazes e lhe desejam boa sorte, outros recusam a oferta e quase o ignoram, mas nem isso parece fazer o candidato desanimar.

– “Pela cor do seu lenço, já vi que posso ter sorte…”

– “Espero que seja muito feliz no domingo.”

– “Só depende de si!”

Os diálogos sorridentes e bem dispostos multiplicam-se entre os bancos de jardim, com o hino da campanha como banda sonora, e se uns lhe pedem fotografias com pose, outros dizem para ter coragem no futuro, caso seja eleito. “Hoje foi um dia inteiro na rua, confesso que já me doem as pernas”, afirma o candidato ao Observador. Aproximando-se de um casal que o observava atentamente, Vladimiro Feliz pergunta se o negócio correu bem. “Mais ou menos”, responde-lhe a vendedora, que se prepara para arrumar uma banca onde reinam carrinhos antigos em miniatura. “Já vi que está cheia de coisas que eu gosto, de clássicos. Antes ainda víamos muitos no Porto, mas alguém acabou com eles”, disparou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De t-shirts estampadas e algumas bandeiras em punho, a comitiva do PSD atravessa a rua e aterra na esplanada do Café Velasquez, bastante concorrida num sábado com sol. O candidato social democrata tanto elogia os olhos azuis de uma criança como ouve queixas dos habitantes daquela freguesia, dos cães vadios ao encerramento de uma esquadra da polícia.

– “Desculpe estar a tapar-lhe o sol, mas são só 15 segundos para lhe deixar este jornal com o nosso programa.”

– “Se quiser, junte-se a nós. Está-se tão bem aqui.”

– “Obrigada, mas esta semana não posso. Depois veremos se tenho tempo livre ou não.”

De jornais numa mão e a outra livre para acenar e cumprimentar, o candidato do PSD tem-se mostrado cada vez mais confortável na rua

As saudades de Madrid, a crítica de um jovem e um encontro inesperado

Numa das mesas ouve-se falar espanhol, Vladimiro mostra-se curioso e tenta decifrar a nacionalidade pela pronúncia, falando o mesmo idioma. “Também vivi em Madrid, tenho muitas saudades, mas agora estou de volta. O bom filho à casa torna, não é? Bem, vamos ver se dia 26 estou ou não de volta. Isso só vai depender de vós”, avisa o social democrata, que ao lado encontra um grupo de jovens:

– “Não precisamos do jornal, nesta mesa vamos todos votar em si.”

– “Que boa notícia! Estou a ver que por aqui a sondagem é favorável. Mantenham essa felicidade, eu tenho no nome, mas vocês têm na cara. Gosto muito dos vossos sorrisos.”

Mas nem todos os jovens sorrirem e lhe garantem o voto, alguns rejeitam o jornal e criticam diretamente a sua forma de fazer campanha:

– “Obrigada, mas quando quero ver uma campanha, não preciso de ver poluição, e olhe que não sou do PAN. Acho que não faz sentido estar a gastar tanto papel quando as pessoas da nossa idade têm acesso à informação pela internet.”

– “Concordo consigo, mas há muita gente que não tem acesso à informação de outra forma, por isso é que fazemos assim. Temos de tentar chegar a todos.”

– “Na faculdade não pude imprimir a minha tese, tive de a pagar à parte, e agora imprime este papel todo a cores. Há coisas que não fazem sentido.”

– “Tem toda a razão, estou completamente de acordo consigo. Trabalho nessa área há muito tempo, mas infelizmente não conseguimos chegar a toda a gente pela internet. Por favor, consult3 o nosso site e depois diga-me o que achou do nosso programa.”

– “Está bem!”

– “Mas diga-me mesmo, mande-me um email.”

Quase no fim do percurso, que culminará no Campo 24 de Agosto, eis uma coincidência: Vladimiro Feliz conhece os pais de Tiago Barbosa Ribeiro, candidato socialista á câmara do Porto.

– “Posso oferecer-lhe um jornal?”

– “Obrigada, mas não podemos aceitar. Somos pais do Tiago, moramos aqui perto.”

– “Pronto, mandem-lhe um abraço. Estive com ele há pouco tempo e dou-me muito bem com ele.”

– “Claro que sim. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.”

– “Tenho muito gosto em conhecer-vos. Não lhes desejo boa sorte nisto, mas no resto muitas felicidades.”

– “Obrigada, para si também. Muito gosto.”