“Era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade como aquela de que a Galp deu provas aqui na refinaria de Matosinhos”. O primeiro-ministro, António Costa, voltou esta quarta-feira a atacar duramente a gasolineira Galp pela forma como conduziu o processo de encerramento da refinaria na cidade nortenha, recusando que haja qualquer incoerência nas posições que assumiu em maio e, agora, mais recentemente.

As críticas estão num artigo de opinião publicado no jornal Público cujo diretor, segundo o primeiro-ministro, lhe lançou “um repto para esclarecer” uma polémica que “muita tinta tem feito correr”. “Não tenho nenhum medo em dizer claramente que o processo da Galp, aqui em Matosinhos, é um exemplo de escola de tudo aquilo que não deve ser feito por uma empresa que seja uma empresa responsável”, escreveu o primeiro-ministro.

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Na leitura feita por António Costa, “a Galp começou por revelar total insensibilidade social ao escolher o dia 20 de dezembro, a 5 dias do Natal, para anunciar aos seus 1.600 trabalhadores que ia encerrar a refinaria de Matosinhos. Além disso, “ao contrário do que estão a fazer as empresas que estão agora a encerrar as suas centrais a carvão, no preparou minimamente a requalificação e as novas oportunidades de trabalho e de prosseguir a vida ativa, para os trabalhadores que iriam perder os seus postos de trabalho”.

Revelando que não tem “a menor consciência da responsabilidade que qualquer empresa, e em particular uma empresa daquela dimensão, tem para com o território onde está instalada”, a Galp deixou “um enorme passivo ambiental de solos contaminados, não dialogando previamente com a câmara nem com o Estado sobre o que pretende fazer depois de encerrar a refinaria”.

Sim, nós temos de fazer a transição energética, temos de trabalhar para a descarbonização da nossa economia, mas isso tem de ser feito com consciência social e com responsabilidade!”, atirou o primeiro-ministro.

António Costa, que diz “nada ter contra a empresa”, assegura que “quem se porta assim tem de levar uma lição para que esta lição seja exemplar para todas as outras empresas que vão ter de enfrentar processos semelhantes neste processo de transição energética”.

Comissão de Trabalhadores quer saber se despedimentos vão ser revertidos

Estes “esclarecimentos” do primeiro-ministro nas páginas do Público “não nos esclarecem nada, pelo contrário, ainda nos levantam mais questões”, afirmou esta quarta-feira Hélder Guerreiro, presidente da comissão de trabalhadores da Petrogal, ouvido pela Rádio Observador.

“O que nós gostaríamos era de saber se o senhor primeiro-ministro, enquanto representante do Estado como segundo maior acionista, direto, pretende reforçar a posição do Estado na empresa e usá-la para intervir neste caso, revertendo os despedimentos e revertendo o encerramento da refinaria do Porto”, afirmou o responsável.

Nunca podemos perder de vista que o Estado é o segundo maior acionista, que é uma coisa que tem sido ignorada pelo senhor primeiro-ministro nos seus discursos”, acrescentou Hélder Guerreiro.

Refinaria de Matosinhos: “Costa não esclareceu, ainda nos levanta mais questões”

A Parpública tem 7,48% do capital da Galp, com 33,34% detidos pela Amorim Energia e os restantes 59,18% são free float negociado em bolsa.