Foi a última visita oficial de Angela Merkel, tendo escolhido um país a que, confessa, “exigiu tanto”. Na Grécia, a chanceler alemã foi recebida pelo primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, e pela Presidente grega, Katerina Sakellaropoulou, esta que reconheceu os “momentos de tensão” vividos no decorrer da crise financeira.

“A crise financeira que muitos países europeus enfrentaram colocou sobretudo a Grécia, que foi chamada a pagar um preço alto, numa posição difícil… E a Grécia sentiu-se — justificadamente sentimo-nos sós”, disse a chefe de Estado grega após se reunir com Merkel, em visita ao país.

Por sua vez, o primeiro-ministro helénico sinalizou que a própria Merkel “admitiu corajosamente que fez muitas exigências aos gregos numa época em que a Grécia estava a passar pela turbulência de uma crise financeira”, destacando, de acordo com a Associated Press, que houve momento de uma “austeridade europeia cega” e que a chanceler foi “algumas vezes injusta”.

No entanto, Kyriakos Mitsotakis salientou que Merkel foi “a voz da razão e da estabilidade, quer em Berlim, quer em Bruxelas”, além de ter sido “decisiva” em alguns “momentos importantes”.

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Em resposta, Merkel não negou que se tratou de tempos difíceis, “bastante animados” e que abalaram “particularmente” a Grécia. Por causa disso, mencionou as críticas de que foi alvo na sociedade grega, tendo também frisado que houve “executivos muitos diferentes que fizeram reformas muito diferentes” daquelas que a União Europeia queria implementar, numa alusão ao governo do Syriza, que em 2015 convocou um referendo para decidir se o país devia ou não aceitar os constrangimentos de Bruxelas em troca de um plano financeiro.

“O diálogo foi sempre a chave”, afirmou a chanceler alemã, que indicou que a União Europeia foi ferramenta que deu “força” para ultrapassar os  pontos altos e baixos que sofreram as relações bilaterais com a Grécia.

Mas uma das principais caras do Syriza, o ex-ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, citando Tácito, disse que Merkel “transformou a Grécia num deserto e a isso chamou de paz”. E deixa críticas à chanceler, indicando que “desperdiçou o seu enorme capital político para manter” igual o status quo.

Presidente grega desejou a Merkel que realize atividades que a “façam desfrutar”

A olhar para o futuro, Merkel sublinhou a boa cooperação que se formou entre os dois países durante a crise migratória, quando trabalharam “muito bem juntos e de forma construtiva”.

Além disso, à medida que a situação financeira do país melhorava gradualmente, o mesmo acontecia com as relações com a Alemanha e com o sentimento do público em geral em relação à própria Merkel.

“Acredito que o tempo que passou e as experiências vividas durante este período contribuíram para o entendimento mútuo e para a obtenção de conclusões úteis para o presente e o futuro”, disse a Presidente grega, que salientou que é “importante que a Europa mantenha a sua coesão, e isso ficou demonstrado no tratamento da pandemia e no Fundo de Recuperação Económica”.

No entanto, Katerina Sakellaropulu pediu à Alemanha e aos parceiros europeus um maior apoio nos problemas “nacionais” da Grécia, aludindo às suas difíceis relações com a Turquia, que não mencionou explicitamente.

A Grécia é um parceiro “fiel” e espera um apoio mútuo, sempre no respeito do direito internacional, sublinhou Sakellaropulu, referindo-se às contínuas provocações do país vizinho no Mediterrâneo oriental.

Como mensagem de despedida, a Presidente grega desejou à chanceler alemã tempo para sua família e amigos e para fazer coisas que a “façam desfrutar”, embora esteja convencida de que continuará a ser “muito ativa” politicamente.

Merkel respondeu que continuará a ser uma pessoa politicamente conscienciosa, mas que agora abrirá mão das suas responsabilidades. E também espera que, com o novo governo, as relações continuem num bom caminho.