O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou esta segunda-feira que o novo Presidente cabo-verdiano, que toma posse na terça-feira, “é um amigo de Portugal” e que vai continuar a telefonar ao seu amigo Jorge Carlos Fonseca, Presidente cessante.

“É meu amigo há tantas décadas que eu não paro esses hábitos que são fundamentais”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, questionado pelos jornalistas, esta tarde, na Praia, sobre o futuro dos telefonemas que regularmente faz ao Presidente de Cabo Verde ainda em funções, Jorge Carlos Fonseca, como ambos já reconheceram publicamente.

“Até ligo mais à vontade [a partir de agora]. Porque de vez em quando ligava-lhe e ele estava numa ilha. Eu nunca sabia em que ilha é que ele estava”, recordou, a propósito das dificuldades de comunicações que por vezes sentia.

Marcelo Rebelo de Sousa chegou na madrugada desta segunda-feira à Praia, para assistir à posse de José Maria Neves, antigo primeiro-ministro de Cabo Verde (2001 a 2016), na terça-feira. Esta tarde, condecorou o Presidente cessante, Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o último dia do segundo mandato como chefe de Estado, com a medalha da Ordem de Camões, a mais recente ordem honorífica portuguesa.

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“Está intimado a ir mais vezes a Portugal, tanto mais quanto tem agora uma filha que lá estuda. E isso preocupa sempre o pai e a mãe”, afirmou ainda Marcelo Rebelo de Sousa.

Sobre José Maria Neves, 61 anos, eleito em 17 de outubro o quinto Presidente da República de Cabo Verde — eleições às quais já não concorreu Jorge Carlos Fonseca —, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou tratar-se de um “amigo de Portugal há muito tempo” e que o demonstrou como primeiro-ministro.

“Foi primeiro-ministro com vários primeiros-ministros com orientações diversas em Portugal e deu-se muito bem com todos os primeiros-ministros portugueses. É uma personalidade conhecida e respeitada em Portugal e que sabemos que tem em especial consideração as relações entre Portugal e Cabo Verde. Isso à partida é um trunfo para as duas partes que é essencial”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente português condecorou esta segunda-feira Jorge Carlos Fonseca com a medalha de Ordem de Camões, a mais recente ordem honorífica portuguesa, criada em junho, a primeira das quais atribuída ao reaberto Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, no Brasil.

É uma distinção que me honra muito, acontece na véspera do fim do meu mandato e o facto de ser a primeira individualidade que é concedida esta distinção, que é uma Ordem Camões e o Grande Colar, estimula-me mais a continuar a escrever, a fazer literatura e também a cultivar a língua portuguesa, que também é a nossa língua”, afirmou Jorge Carlos Fonseca.

Jurista, professor universitário e escritor, Jorge Carlos Fonseca, 71 anos, cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República de Cabo Verde, tendo sido reconduzido ao cargo em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).

“Creio que, simbolicamente, representa um gesto de amizade e de fraternidade do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que já conhecia antes, mas com quem, nos últimos 10 anos tive relações de muita proximidade, de muita cumplicidade”, disse ainda.

Jorge Carlos Fonseca acrescentou que a condecoração “é também um sinal de que as relações entre os dois países são boas, e continuarão a sê-lo”.

“Porque as relações não dependem de quem seja o Presidente da República, de quem seja o Governo, de que área política, e estou convencido também que com o novo Presidente eleito as relações continuarão as mesmas, ótimas, boas, se possível, aprimoradas”, enfatizou.

O Governo português aprovou em 9 de junho o decreto-lei que integra a Ordem de Camões na Lei das Ordens Honoríficas Portuguesas e regulamenta esta condecoração criada em 1985 com o objetivo de distinguir quem “preste serviços relevantes à língua portuguesa”.

“É uma homenagem particularmente simbólica, porque trata-se de uma Ordem que foi criada, disciplinada e regulamentada há pouco tempo em Portugal (…), a todos que serviram a comunidade de língua portuguesa, serviram a língua e cultura portuguesa ao mais alto nível. É o caso do Presidente Jorge Carlos Fonseca”, explicou Marcelo Rebelo de Sousa, após a cerimónia de condecoração.

Acrescentou que Jorge Carlos Fonseca “serviu como Presidente de Cabo Verde, como presidente da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], numa presidência notável”, mas também “serviu e serve como escritor, como poeta, como ficcionista, como ensaísta, ao longo de décadas de vida”.

“Portanto, é justíssima a homenagem, mas eu admito que tem um sabor especial, no último dia do seu segundo mandato, porque significa que aquilo que é duradouro ultrapassam os mandatos temporários da política”, sublinhou, assegurando tratar-se de uma homenagem que “é devida”.

“E ganha um sabor especial por ser prestada num momento em que fica claro que está para além do cargo, embora o cargo tenha servido a língua e a cultura portuguesa, é um mérito da pessoa, do seu percurso e da sua carreira, do seu passado, do seu presente e do seu futuro”, concluiu.

Esta é quinta deslocação oficial do Presidente da República português a Cabo Verde, sem contar com escalas, depois da anterior em maio, de apenas cerca de quatro horas e limitada à cidade da Praia.