A Iniciativa Liberal marcou um debate potestativo para revogar a existência do Cartão do Adepto, um mecanismo criado pelo governo para controlar o acesso a zonas especiais dos estádios, normalmente reservadas às claques. Poucas foram as claques que aderiram a este cartão, muitas dedicam-lhe cânticos durante os jogos e desde o inicio da temporada é comum os estádios terem zonas vazias – e que não podem ser ocupadas –, devido à falta de adesão a este cartão. O assunto levou a um raro momento em que António Costa quase concordou com João Cotrim Figueiredo.
“A sua descrição foi tão impressiva que até a mim me parece ter convencido. E é isso que me está a deixar desconfiado”, disse António Costa no último debate no Parlamento, em resposta ao deputado do Iniciativa Liberal, que comparou “uma ida a um estádio de futebol a uma repartição de finanças”. Há um mês, o primeiro-ministro prometeu ir “inteirar-se” da situação e agora a Iniciativa Liberal, o PCP e também o Chega apresentaram propostas para revogar o Cartão do Adepto. Entre os proponentes, admite-se que também o PSD possa abster-se na votação para impor o fim da medida.
Quando a proposta foi aprovada em 2019, ainda na anterior legislatura, apenas PCP e Verdes se abstiveram, com os restantes partidos a votarem a favor, pelo que o recuo ainda é uma indecisão. Ao Observador, o Grupo Parlamentar do PS diz apenas que “o combate à violência no desporto é uma questão absolutamente central”, não defendendo diretamente que mecanismos como o Cartão do Adepto sejam os mais eficazes para esse combate à violência.
Cartão do Adepto continua ou não? Regulador admite que é para “controlar comportamento das claques”
O presidente da Autoridade contra a Violência no Desporto, Rodrigo Cavaleiro, defendeu aos microfones da Rádio Observador que “a medida tem apenas três meses de implementação efetiva” e por isso ainda é cedo para tirar conclusões, adiantando desde já que “não é miraculosa”.
Já a Associação Portuguesa de Defesa do Adepto diz que a medida “está condenada à sua falência”, com a presidente da direção, Marta Ghens a assegurar que “não vale a pena arrastá-la”. Ainda assim, falta garantir a inversão de uma larga maioria parlamentar.
Protestos contra a o cartão têm valido multas aos clubes
Os elementos ligados às claques têm recusado este Cartão do Adepto – praticamente só os Super Dragões é que aderiram em massa, mas com criticas –, e a postura de oposição a este mecanismo tem valido já multas por parte da liga portuguesa aos clubes de futebol. Tarjas com criticas e palavras menos próprias e até cânticos a pedir aos adeptos para “dizerem não ao cartão” têm sido ouvidos um pouco por todos os estádios do país.
Este Cartão do Adepto tem uma validade de três anos e pode ser pedido por todos acima dos 16 anos e tem um custo de 20 euros. Este mecanismo foi criado com a alteração do regime juridico do combate à violência, racismo, xenofobia e intolerância no espetáculo desportivo e que para além do Cartão do Adepto, encurtou os prazos processuais e aumentou as coimas e a possibilidade de interdição parcial dos estádios.