O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados disse esta quarta-feira em Bruxelas que “a União Europeia (UE) pode e deve fazer melhor” na gestão dos fluxos de refugiados e migrantes, deplorando o comportamento de alguns Estados-membros.

Intervindo no Parlamento Europeu, em Bruxelas, numa cerimónia a assinalar o 70.º aniversário da Convenção de Genebra, Filippo Grandi sublinhou que a agência da ONU que dirige olha para a Europa em busca de liderança e apoio e manifesta gratidão por todo o apoio financeiro prestado pela UE.

Mas, na mesma intervenção, Grandi lançou diversas críticas, lamentando designadamente a forma como muitos migrantes e refugiados são tratados nalguns Estados-membros do bloco comunitário.

De acordo com o responsável italiano — que em 2015 sucedeu ao agora secretário-geral da ONU, António Guterres, na liderança do Alto Comissariado para os Refugiados (ACNUR) –, o quadro atual na Europa em matéria de asilo “é lamentavelmente misto”, já que, “embora muitos países continuem a aderir às leis e princípios europeus e internacionais, as práticas atuais de alguns Estados são motivo de grande preocupação“.

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Sem nunca mencionar países específicos, Grandi enfatizou que “o resto da UE não deve permitir um nivelamento por baixo, mas sim assegurar que as leis e obrigações são cumpridas por todos”.

Afirmando-se plenamente consciente dos “muitos desafios que os movimentos de migrantes e refugiados colocam aos sistemas de asilo na Europa e no mundo, agravados muito frequentemente pela ação criminosa dos traficantes” e até “encorajados pelos Estados”, numa referência à Bielorrússia, o líder do ACNUR enfatizou, contudo, que “nada justifica as reações irracionais a que se assiste nalguns locais”.

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Grandi deplorou em concreto “o discurso xenófobo irresponsável, os muros e o arame farpado, a violenta repressão que inclui o espancamento de refugiados e migrantes, por vezes despindo-os e atirando-os aos rios ou deixando-os afogar-se nos mares“, ou ainda “as tentativas de escapar às obrigações de asilo, pagando a outros Estados para assumirem as suas próprias responsabilidades”.

“A UE, uma união baseada no Estado de direito, deve e pode fazer melhor e, em matérias de Estado de direito, continuar a ser um exemplo para os outros”, disse.

A terminar, o Alto Comissário encorajou todos os Estados-membros a apoiar o novo pacto migratório proposto recentemente pela Comissão Europeia, instituição à qual, por seu turno, não poupou elogios pelos esforços que tem desenvolvido em busca de uma verdadeira política migratória europeia.